segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Artes e Ofícios¹ - para todos



CRO, Flávio. Vivendo de ar..., 2010..., work in progress, esferográfica sobre volante de loteria e aposta; nesta versão: apostas feitas no dia e coladas como stickers, na parede, na entrada do galpão do Liceu de Artes e Ofícios em São Paulo. 



É interessante perceber a postura crítica sendo assumida neste espaço, uma vez que criticar é colocar sob o holofote, positivamente ou negativamente, demanda a lucidez de manter sobre aquilo que criticamos o foco, uma vez que como Anne Cauquelin nos avisa, ignorar é a postura crítica contemporânea por excelência, aquilo que aqui no Brasil conhecemos popularmente como "vácuo", no qual muitos já experimentaram o "limbo", que é temperado por um destino mais amargo do que ser merecedor ou desmerecedor do sentimento antagônico ao amor.


O que mais me chamou atenção na proposta do evento pode ser resumido na palavra coragem, ela foi necessária para a proposição/produção do evento, mas faltou em sua execução, no momento no qual foi necessária para assumir a própria proposta...

Ao me deslocar de Belo Horizonte para São Paulo, para essa oportunidade, que seria a minha primeira de expor no estado, diversas possibilidades de falhas vieram a minha mente, a exposição seria cancelada, seria um trote artístico, ninguém compareceria ou tudo estaria impregnado e não haveria espaço. Não me importava que estaria ao lado de "gigantes" da arte ou de meras "formiguinhas", uma vez que já varremos esses preconceitos – uma pena que foi para debaixo dos tapetes de alguns preconceituosos. O que não esperava foi o que aconteceu, chegar no segundo dia e descobrir, na fila, que uma das cláusulas do edital havia sido rasurada a canetinha, laranja, dessas escolares; não esperava encontrar outros artistas, que como eu viajaram somente para encontrar ,num portão fechado, as figuras do segurança bonzinho e do segurança malvado, dirigidos pelos membros de uma organização medrosa de se dirigir até nós – pelo menos foi a imagem que figuraram – e pedir desculpas pela atitude que escolheram assumir; não esperava conhecer Jac Leirnner assim, impotente para ajudar sua amiga do outro lado do portão, nem outros tantos artistas, desconhecidos por mim até então, que passaram por nós com vontade, mas impotentes e ainda tantos outros que só passaram, com medo de cruzarem conosco até olhares de pena ou indignação. E principalmente não esperava que num evento de arte o diálogo fosse cortado.

O que se cria com tal proposta então? Uma exposição nos moldes aceitáveis e institucionalizados que já cansamos de ver por ai, que pecou por não ousar se assumir, por abrir mão daquilo que a fazia questionar o grande evento paralelo à mesma, por se tornar uma fração do que havia para ser. Embora com todos esses defeitos, ainda assim ela nasceu e com ela tanto àqueles que ficaram de fora, quantos os que a adentraram foram capazes de estabelecer diferentes maneiras de participação, concreta ou virtual, não sei se re-estabelecendo o diálogo, uma vez que até o momento mantinha-se unilateral, mas talvez utilizando a arte para instigá-lo onde ele não se sustentava mais. Assim é o poder da polêmica, longe de apaziguar ela nos faz questionar nossas posturas, através dela somos levados a encarar a ignorância e a nos colocarmos sobre o foco, então dou graças ao simples fato dela ter existido, não deixando o diálogo morrer nas garras da besta ignorância...






Panorama das intervenções "clandestinas" na fachada do Galpão do Liceu de Artes e Ofícios durante a exposição: Artes e Ofício¹ - para todos; São Paulo, SP, Brasil.

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