sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O Vigia/Watchman



Figura 1 e 2:
CRO, Flávio. O Vigia/Watchman. 2016, ready-made com relógio da marca Citzen e caixa.
10 x 6 x 20 cm (caixa aberta)
Fonte: Acervo do Artista.

O título do trabalho: 
O Vigia/Watchman, foi construído como um jogo de palavras que articula diversos termos e significados como vigia ou vigilante em português e em inglês (watchman), que quando decomposto forma relógio em inglês (watch) e homem (man), dando a entender uma outra forma, a de “homem do tempo” que também significa vigia ou vigilante; além da palavra (citzen), estampada na caixa, que pode ser traduzida como cidadão em português, mas que também é apropriada pela marca do fabricante do relógio, como seu nome.

A associação dessas palavras, como num quebra-cabeças, pode gerar as mais variadas leituras, como por exemplo: O cidadão (citzen) é aquele que possui o tempo em suas mãos, a marca lhe vende o tempo, para que possa usá-lo, ou, pelo menos, medir seu uso. Watchman, também lembra “Watchmen”, título do quadrinho de Alan Moore e Dave Gibbons de 1986, no qual a necessidade de vigilantes/heróis, de protetores ou cuidadores, para vigiar e punir os cidadãos/citzens, tomados como vilões é contestada em uma série de protestos, sintetizados nas pichações: quem vigia os vigilantes? (who watches the watchmen?). 

Figura 3

Figura 3: Fotografia da página 58 do quadrinho Watchmen, na qual aparece a pichação em português.
Fonte: acervo do artista.

Figura 4


Figura 4: Fotografia de uma da página do quadrinho Watchmen, na qual aparece a pichação em inglês.
comics/ >; acessado em 03/06/2016.
1986 é um data muito próxima a 1984, data que nomeia o romance de George Orwell, no qual ele apresenta um grande vilão: o Big Brother (Grande Irmão ou Irmão mais Velho), que soa como o intuito da proteção do familiar, mas atua como símbolo máximo da sociedade de controle da qual nada pode escapar aos seus olhos vigilantes. Para tornar essas relações mais visuais, apresento um dos cartazes do filme no qual aparece a frase: “big brother is watching you”.

Figura 5
Figura 5: Cartaz do filme 1984 de George Orwell.
Fonte:< https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Irm%C3%A3o >; acessado em 03/06/2016

Watches, Watching, Watch… A pichação que aparece nas páginas dos quadrinhos de Watcmen segundo o que consta no verbete da Wikipedia, é uma tradução retirada de uma sátira de Juvenal a qual seria uma tradução do latin: "Quis custodiet ipsos custodes", além de apontar que a pichação extrapola tais páginas aparecendo nos muros de diversas cidades; o que podemos entender como um desejo de um poder maior que vigie os vigilantes. No caso dos quadrinhos, esses “heróis” superpoderosos, alguns super-humanos, respondiam ao Estado… Observando no trabalho a palavra “citzen” (cidadão), aparece estampada na caixa que pode ser facilmente fechada, cobrindo então o poder do “vigilante do tempo”. A proposta parece supor que é o cidadão quem deve exercer esse controle sobre o vigilante, cobrindo-o com o seu poder…

Figura 6 
Figura 6: Pichação anônima nas Ruas. 
Fonte:< https://pt.wikipedia.org/wiki/Watchmen >; acessado em 03/06/2016.

Não vou entrar na possibilidade de anestesiação desse poder do cidadão, através da manipulação do desejo voierístico da população por um série de televisão que herda o nome do vilão de Orwell, pois seria alongar demais. Mas vou relacionar o quanto os trabalhos e as relações suscitadas pelo mesmos parecem ter bebido de uma fonte: Vigiar e Punir, de FOUCAULT (1987), uma vez que nesta obra a análise do controle exercido pelo poder, faz crer que se distancia cada vez mais dos corpos encarcerados, cujo tempo foi roubado, para se aproximar da imagem, da alma, daquilo que informa o próprio Eu do cidadão ou seja para o controle da informação. Uma vez que o domínio sobre ela poderá significar o poder sobre a criação e/ou reconstrução dos corpos através da manipulação dessa informação…

Mas o relógio do trabalho está parado, um relógio parado perdeu a sua função de vigilante do tempo, não pode mais nos vender a noção de tempo, pois ela cessou… Uma vez parado, desfuncionalizado ele só ostenta a sua característica de adorno, de enfeite, de joia… Um objeto sem função pode então assumir a forma de objeto de arte… Pode-se pensar que agora esse vigia do tempo está “Fora do Tempo”, tomando emprestado as palavras de AGAMBEN (2009), uma vez que se recusa a sua função de medir o tempo, está livre para articular diversos momentos no “presente”.

Segundo CAUQUELIN (2011), o tempo é um dos componentes essenciais para entendermos as práticas contemporâneas que visam o processo em relação ao produto. Assim trabalhos que lidam com a noção de passagem do tempo, ao se recusarem a apresentar um objeto único e estático, atentam para um fato que passou despercebido, que toda obra é resultado de um processo de construção. Não se trata de atestar a supremacia do processo em relação ao objeto final, mas somente de demonstrar, que assim como toda obra é interativa, relacional, etc.; o processo também consta como uma das essências de uma obra, seja ele físico ou mental. Nesse sentido podemos recrutar o conceito de GROYS (2010), daqueles que são contemporâneos como sendo “camaradas do tempo”, atuando como uma espécie de colaboradores dessa arte do tempo ou processual. Assim o vigia do tempo pode ser apontado, também, como alguém que colabora com o tempo, que o documenta, que mostra que, em essência, todos os processos se conectam nele, mesmo quando não têm mais função de precisá-lo…

Referências



AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009.



CAUQUELIN, Anne. No Ângulo dos Mundos Possíveis. São Paulo: Martins Fontes, 2011.



FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.



GIBBONS, Dave; MOORE, Alan. Watchmen, São Paulo: Panini, 2009.


GROYS, Boris. Camaradas do tempo. In: Caderno SESC videoBrasil, vol.6. São Paulo: Edições SESC SP: Associação Cultural Vídeobrasil, 2010.

MIRANDELO. Watchmen the Superhero Comic to end Superhero. Disponível em: <https://mirandalello.wordpress.com/2014/06/19/watchmen-the-superhero-comic-to-end-superhero-comics/ >. Acesso em 3 de junho de 2016.

WIKIPEDIA. O Grande Irmão. Disponível em: 
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Irm%C3%A3o>. Acesso em 3 de junho de 2016.

WIKIPEDIA. Watchmen. Disponível em: . Acesso em 3 de junho de 2016.








terça-feira, 4 de outubro de 2016

Revoada



CRO, Flávio. Revoada, 2016, montagem de quebra-cabeças de pinturas e madeira na parede, dimensões variadas.
Fotografia: Crys Jardim
Fonte: acervo do artista



A exposição Revoada consistiu em montagens de quebra-cabeças de pinturas sobre as paredes, construídos com madeiras e tintas de canteiros de obras e dos ateliês de outros artistas. Inspirado nos recortes dos muros de escalada a partir das primeiras doações feitas pelo amigo escalador Alexis Loireau, nos Azulejões, pinturas modulares de Adriana Varejão e na série de gravuras Revoadas de Tales Bedeschi – da qual toma emprestado o título. O trabalho se integra ao espaço absorvendo a arquitetura do local, no qual se instala, imergindo o expectador nesse ambiente. A partir do impacto do encontro com esses outros trabalhos, Flávio CRO começou a imaginar como construiria sua resposta poética, como aceitaria o desafio da pintura contemporânea em relação a tantas propostas sem se perder nessa aquarela. O desafio a que se propôs foi o da releitura e o da apropriação, de técnicas e de temas, para construir sua visão da pintura como um quebra-cabeças contemporâneo, cuja contaminação longe de pressupor um fim, ataca sua pureza para unir práticas e dialogar sobre as diferenças que cada um é capaz de manifestar.


Foi a primeira mostra individual dessa série de pinturas que são como um quebra-cabeças pictórico.

Noemi Assumpção foi a convidada para realizar uma intervenção gastronômica durante a abertura da Mostra!

Montagem: Shima e César
Local: Aliança Francesa - BH 
R. Tomé de Souza, 1418 
Savassi, Belo Horizonte - MG, 

Data: Coquetel de abertura dia 20/07/2016 das 19h as 22h

Exposição de 20/07 a 10/08/2016 




CRO, Flávio. Revoada, 2016, montagem de quebra-cabeças de pinturas e madeira na parede, dimensões variadas.
Fotografia: Crys Jardim
Fonte: acervo do artista



CRO, Flávio. Revoada, 2016, montagem de quebra-cabeças de pinturas e madeira na parede, dimensões variadas. (detalhe da montagem)
Fotografia: Shima
Fonte: acervo do artista




CRO, Flávio. Revoada, 2016, montagem de quebra-cabeças de pinturas e madeira na parede, dimensões variadas. (panorâmica da exposição)

 Intervenção Gastronômica elaborada pela Noemi Assumpção: Putinhas servidas com Calcinhas de Nylon.













A recepção da exposição e a dúvida: comer as putinhas com ou sem calcinha?














CRO, Flávio. Revoada, 2016, montagem de quebra-cabeças de pinturas e madeira na parede, dimensões variadas.
(detalhes da instalação no espaço expositivo)

Público e Obra.


Degustando o buffet que seguiu a linha da exposição criando drinks e pratos através do reaproveitamento das sobras e materiais utilizados na cozinha.

.Livro de Assinaturas e texto do trabalho

Catálogo da Exposição




 Matérias sobre a Exposição


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Alianças Vivas


CRO, Flávio. Revoada, 2016, montagem de quebra-cabeças de madeira na parede, dimensões variadas.

A Aliança Francesa tenta a cada ano, através do seu espaço cultural "Galeria George Vicent", promover e valorizar a criação artística mineira. 

Em dezembro de 2015, quando lançamos o edital de ocupação 2016 da nossa galeria, momento em que acontecia em Paris a COP 21, nosso objetivo era simples: criar uma relação entre arte e sustentabilidade, abrindo uma janela para todas as interpretações possíveis. 

A riqueza e a variedade das propostas recebidas mostraram a consciência e o engajamento da arte mineira para o meio ambiente, o patrimônio, a cidadania, entre outros exemplos de temáticas sustentáveis.

Assim, essas exposições, sensibilizações poéticas à temática da sustentabilidade, criaram um incentivo para lançar um projeto piloto: as Alianças Vivas.

A partira das obras artísticas, gostaríamos de convidar cidadãos, coletivos, associações e empresas a criarem sinergias de ações coletivas. A cada mês, de março até novembro, com uma temática relacionada a cada exposição, iremos propor nove palavras chaves: iniciativa, inventário, florescência, água, economia circular, cidadania, convivência, biodiversidade e patrimônio.

Visando esse objetivo criamos 2 laboratórios, de tamanhos micro e macro, para reunir e impulsionar iniciativas cidadãs que visibilizassem a realização desse projeto. Tivemos a sorte de encontrar um parceiro muito importante, a Savassi Criativa, que nos ofereceu a possibilidade de tentar visualizar o projeto dentro do laboratório macro: o bairro Savassi. Enquanto que o prédio da Aliança Francesa se tornou o seu laboratório micro. 

Idealmente, esse laboratórios, representam territórios de criações, pesquisas e de iniciativas para desenvolver ações participativas e coletivas para mudar, passo a passo, nossa vida cotidiana. Essas ações resultariam na criação de um jardim urbano, no aproveitamento da energia solar, na ocupação do espaço público, na sistematização da triagem seletiva de lixo, na Festa dos vizinhos ou do Patrimônio: pistas de ações colaborativas a desenvolver! 

Convidamos vocês a se juntarem a nós e anos nossos parceiros, para assinar o manifesto que se encontra dentro desse programa cultural 2016.

Sendo assim, seremos uma "imaginação coletiva para uma Belo Horizonte sustentável..." 



Pierre Alfarroba
Diretor da Aliança Francesa BH

Thierry Carré
Presidente da Aliança Francesa BH




CRO, Flávio. Revoada, 2016, montagem de quebra-cabeças de madeira na parede, dimensões variadas.

A abertura do projeto aconteceu como mostra Iniciativas, de 23/03/2016 a 13/04/2016
 Cecília Alvarenga - Florescência
 Alves - Sertrangênicos e Cerrado em Quadrinhos 

 Daniel Pinho, Renata Laguardia, Miguel Gontijo - Limitrocidade 


Baba Jung - Metamorfose do Abandono




Efe Godoy - Como se eu Estivesse lá


Vitor Novato - Nós Edifício

 Fernanda Fernandes - KM 4






Espaço e trabalhos.


Catálogo do Projeto