terça-feira, 1 de abril de 2014

Museu do Instante Vs Laboratórios


CRO, Flávio, Sem Título, 2013, fotografia digital. 


A proposta do Museu do Instante foi relativamente simples, mas intensamente significante! Ocupar a Praça da Liberdade com diversas ações culturais, num sábado de janeiro... 


Dentro das propostas de ocupação me interessei por colaborar com uma imagem, que contribuiu junto a tantas outras, para a ação de projeção na fachada digital do Espaço do Conhecimento UFMG. Para integrar esse outdoor digital que "comunica" diretamente a rua e nesta a um público distraído, a fotografia selecionada foi uma imagem das minhas deambulações pela cidade, uma imagem que fala sobre os caminhos da cidade e aqueles pelos quais neles transitam. 


CRO, Flávio, Sem Título, 2014, projeção de fotografia digital.

CRO, Flávio, Sem Título, 2014, projeção de fotografia digital.

Um dos demais trabalhos projetados durante a ação.

Um dos focos dessa proposta, de ocupar a praça, é discutir a utilização desse espaço público, pelos diversos agentes humanos que compõem o retrato da cidade, na intenção de dirigir-se a eles como agentes ativos e não apenas como um passivo estático em suas paisagens.

Uma das vantagens de estar na rua são as surpresas. A imagem que que enviei foi realizada durante uma outra ação de ocupação e experimentação da cidade. Em novembro de 2013 recebi um convite de Sávio Reale para participar da proposta Pequenas Urbanidades Livres x Laboratório de Expedições Urbanas, o encontro foi uma iniciativa de Elisa Campos como parte de sua disciplina: paisagem local/paisagem global: habitar a paisagem; e contou com a presença de diversos artistas da cidade, na exploração de um percurso que iniciava na Rua Sapucaí, Estação Central, em Belo Horizonte, passando pela Vila Itaú e terminando na Rua Dr. Antônio de Carvalho Laje, em Contagem. O convite para esse ato transitório me abriu ao aprendizado, sobre os lugares, seus personagens, suas histórias...

Durante a execução da minha proposta: Malação que consistia na pertubação desse ambiente urbano. Fui registrando as surpresas a que era submetido pelas intervenções do restante do grupo, bem como pelas mensagens aderidas ao corpo da cidade e as reações daqueles que ocupam e transitam essas regiões. 

Como estratégia contemporânea, muitos artistas voltam suas práticas para a vivência da cidade, uma vez que, em sua grande maioria, residem nelas, procuram partilhar e alimentar a tomada de suas veias de asfalto e seus orgão de concreto para a prática do humano, para a descoberta de usos menos pragmáticos, mas nem por isso menos eficientes para o desenvolvimento do nosso ser.


Como praticante de um esporte de aventura, percebo em outros como eu, a tendência a fugas sistemáticas da cidade, mesmo que por ansiosos e curtos períodos, dos feriado e finais de semana. Por muitos, a cidade é vista como embrutecida, como um vórtice que suga as energias dos homens – Babilônia! –, enquanto que o campo, as montanhas, compartilham uma energia revitalizadora. Como se, nessa dualidade, houvesse uma herança da visão romântica e inocente, das purezas do "selvagem"...

Bem, é fato que a cidade possui um energia pulsante, e que, como um vórtice, realmente atrai muitos com sua gravidade de oportunidades, mas também é fato que a cidade se tornou um símbolo ineficiente da eficiência humana, habita-mó-la com nossos corpos, mas sem nossas almas! 

Talvez por isso muitos artistas resolveram-se por ressuscitá-la, provendo grandes massas de energia, a partir dos empréstimos e da impregnação de suas práticas no tronco das cidades, na esperança que encontrem outros, afins a elas, que se valham dessa potência para impulsioná-los a lugares dos quais de nada sabemos. 

No meu caso a interação foi fotográfica e presencial, provocando e roubando um pouco dessas almas, gravando seus espíritos em imagens fotográficas, procurei, a partir desses recortes da paisagem, prender um pouco do tempo e compartilhar um ínfimo dessa força anímica que emana da luz desses corpos que estimulam nossos desejos nessa cidade. 

Nesse instante fotografar demandou estar atento e preparado, desafiar, provocar, mas sobretudo ter a sorte do encontro... 
















Imagens, ações/intervenções durante o percurso.