segunda-feira, 27 de maio de 2013

Calourada 2013



CRO, Flávio. Peça Fundamental, 2013, objeto, prego na parede. 30 x 3mm.


Inesperadamente, ao comparecer a calourada 2013, na Escola Guignard, fui surpreendido por uma ação/convite de Felipe Godoy, ele disponibilizou martelos, pregos e etiquetas de identificação e exortava o público a participar, da mostra de arte, contribuindo com uma criação.Inspirado por um trabalho de um participante, que se apropriara do próprio martelo como arte, me apropriei de um prego estrategicamente posicionado no vão entre os trabalhos de Godoy e Brandão. Batizei-o ironicamente de Peça Fundamental, e uma vez que esse agente diminuto é o amparo de muitas obras, nada como tirá-lo de seu esconderijo, revolvendo os panos e rendendo honras a sua força de sustentáculo da Arte.

Mostras como essa, assim como a ação de Godoy são extremamente bem vindas c
omo estratégia contemporânea. Nesta atitude de plataforma alguém utiliza uma posição alcançada para lançar outros e, além de ampliar o alcance das discussões, demonstra uma saúde desse meio artístico, pois se mostra vivo a cada artista que nasce. A adesão do público, embora tímida, rendeu frutos com os quais outros se alimentaram, pois assim que participavam já espalhavam as sementes convidando mais a aderirem a ação. Assim como semeei para a Lúcia Casasanta esta semeou também, retirando seu relógio do pulso e fazendo-o brotar na aridez da parede branca... 



Já Era, Lúcia Casasanta Latorre

Felipe Gody

Eymard Brandão? 

???





















Desali

Samuca

Samuca 








  

Mostra de calouros 2013.







sexta-feira, 24 de maio de 2013

Através do Espelho


CRO, Flávio. Através do Espelho, 2013, instalação de 
400 laminados prata sobre vidro, 44 x 2m.


Flávio CRO convida para
a abertura da exposição/instalação
Através do Espelho
Buffet: Shima
Data:
08/05/2013
Local da Exposição:
Passarela Cultural.
Anexo da Biblioteca Pública Estadual Prof. Francisco Iglesias
Rua da Bahia, 1.889 - 2º piso.
Funcionários - Belo Horizonte - MG – Brasil.
Horário:
das 19hs às 22hs
Visitação:
de 09/05/2013 à 29/05/2013; 
de segunda à sexta feira de 08:00 às 20:00 horas; 
sábado de 8:00 às 12:00 horas
Equipe de Montagem:
Clarice Cyrino, Bete da Silva, Geraldo Peixoto, Marconi Marques.
Equipe de Desmontagem:
Clarice Cyrino, Fabiana Pinheiro, Geraldo Peixoto, Kalil Saimon.

 







Montagem da Instalação
Fotografias: Flávio CRO, Geraldo Peixoto (7ª na ordem), 
Marconi Marques (8ª na ordem).
Fonte: acervo do artista.


Através do Espelho



O senhor, por exemplo, que sabe e estuda, suponho nem tenha idéia do que seja na verdade – um espelho?

ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988


A exposição/instalação batizada de: Através do Espelho, consiste numa instalação de papéis laminados prata, colados às janelas da Passarela Cultural do Anexo da Biblioteca Pública Estadual Professor Francisco Iglésias. Os laminados prata, atuam como espelhos "cegos", ou seja, ao refletirem a imagem do observador a turvam, tornando sua correspondência com a realidade mais abstrata, as vezes reconhecível só como borrões de cor, numa forma de "pintura abstrata de luz", bastante divergente da forma de reprodução, quase que idêntica, da imagem a qual associamos aos espelhos no seu uso cotidiano. Essa forma de inserção do espectador na obra, a partir da abstração de sua imagem, me possibilita um questionamento de sua passividade, tornando-o o próprio foco do trabalho e "fazendo-o" inserir seus pensamentos na obra ao mesmo tempo que os volta para si.

Claro que o espelho é um material que há muito instiga a humanidade, aja visto que o título escolhido para a instalação:
Através do Espelho, deriva do livro Através do Espelho e o que Alice Encontrou Lá, de Lewis Carrol, mas também não poderia desvinculá-lo do conto O Espelho, de Guimarães Rosa, e o igualmente intitulado O Espelho, de Machado de Assis. Como últimas referências cito Espelho Cego – 1970 – de Cildo Meirelles, consistindo numa massa cinzenta e informe emoldurada, na qual nega ao espectador a visão de sua própria imagem; e a exposição Trepanações e Outros Artifícios, de Luiz Zerbini, 2007, na qual apesenta uma imensa pintura prata que absorve tudo no seu campo.

As questões erigidas nessa busca especular se voltam para a reflexão, mas como bem nos lembra Robert Moris, não se fixa somente na da constituinte física do espelho, mas igualmente na mental, pois todas são obras que refletem sobre a natureza do humano através da ilusão especular.


porque no fim de oito dias deu-me na veneta de olhar para o espelho com o fim justamente de achar-me dois. Olhei e recuei. O próprio vidro parecia conjurado com o resto do universo; não me estampou a figura  nítida e inteira, mas vaga, esfumada, difusa, sombra de sombra. A realidade das leis físicas não permite  negar que o espelho reproduziu-me textualmente, com os mesmos contornos e feições; assim devia ter sido. Mas tal não foi a minha sensação. 
ASSIS, Machado de. Obra Completa. 
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v. II.

Flávio CRO





























     


Ensaio fotográfico: Marconi Marques
Fonte: acervo do artista.

Para a abertura da exposição propus ao Shima que realizasse uma ação envolvendo o buffet, para que o ato de comer também fosse questionado durante o evento. A proposta inicial seria a de comer as cegas, os visitantes escolheriam a comida sem vê-la, através de buracos, mas durante o evento acabou se concretizando numa "ação minuto", pois cada prato desaparecia nesse curto espaço de tempo, dragado pelos visitantes, ansiosos por se fartarem dessa Arte... O que me impressiona nas ações de Shima é a sua entrega até a exaustão. Nesses atos o vejo de corpo inteiro, até exaurir ingredientes, forças e paixões, envolvendo-nos em gostos, sabores e divagações... Difícil não absorver sua força, pois é uma dessas personalidades solares que alimenta todos aqueles que o orbitam...










SHIMA. Buffet/Ação Minuto, 2013, criações culinárias, 2hs.
Fotografias: Marconi Marques
Fonte: acervo do artista.

Embora tenha sido minha primeira mostra individual sua execução foi coletiva, possível apenas pela seleção e conceção do espaço das mãos do poder público, encarnado na pessoa do Ricardo Girundi, até sua construção, visitação e desconstrução. Das visíveis as invisíveis muitas foram as surpresas: os questionamentos dos visitantes, a fotogenia da instalação, até as frestas entre os espelhos, que deixavam a luz escapar à noite e insistiam em adentrar o espaço durante o dia, a penumbra que tomou conta do corredor,  as dúvidas na montagem e desmontagem me levaram a assumi-las como integrantes à mostra, inicialmente brigando com a arquitetura, ao isolar a paisagem, para depois deixar escapar o dentro para fora, transformando as frestas em janelas, nas quais persiste a troca e as linhas de papel em memórias...









Visões da Mostra
Fotografias: Marconi Marques
Fonte: acervo do artista.


No livro de assinaturas...

O comentário de um visitante: "(Faltou a obra!!)"; a resposta de outro(a) visitante: "É vc uai! Num é um espelho?"












Desmontagem