CRO, Flávio. Sto. Antônio, da série: Ruas, 2018, fotomontagem de apropriações de arte urbana, 50 x 50 cm.
A série Ruas consiste em fotomontagens. Estas foram realizadas a partir de um trabalho de documentação, apropriação e colagem fotográfica, sobre as manifestações artísticas presentes nas ruas da cidade de Belo Horizonte, MG. Dentre as expressões de arte encontradas nessa cidade e transformadas nesta composição visual, podemos destacar o Grafite, a Pichação, os Stickers, etc.
De mameira a dialogar com tais intervenções urbanas, iniciei um trabalho imagético que recruta, digitalmente, diversos dos métodos das propostas da arte de rua, como a de apropriação dos murros e suas texturas, das diversas artes que já se encontram nos mesmos, da sobreposição e colagem de camadas, cores, de escritas, etc., para, assim, criar uma espécie de “pintura” fotográfica. O resultado final, visível para o público, é a construção desse registro que mistura técnicas, imagens, gestos e mensagens, em trabalhos que não morrem como documentações cruas, mas que nascem das pontes que o conhecimento é capaz de edificar pelas esquinas de nossas ruas.
Por ser um artista que vive e trabalha nesta cidade, me exponho a um bombardeio constante das manifestações, espontâneas ou não, que nela se instauram. São mensagens que acompanham diversos dos meus passos ou das minhas pedaladas, para ser mais exato, desde quando acordo e descortino meus olhos no meu quarto, até quando atravesso o portão e vejo as paredes do meu prédio, os muros e as grades que nos segregam de nossos vizinhos. Essas expressões da cultura humana estão sempre me acompanhado pela rua, em todo o meu caminho, dia a dia, seja no percurso até o trabalho ou mesmo no de lazer, elas se manifestam como parte da paisagem que vivencio nesse conjunto urbano da capital.
Já como nos relata o professor Douglas Crimp, ao falar das artes urbanas do artista Daniel Buren, no seu livro Sobre as Ruínas do Museu (2005), nas ruas, tais manifestações estão expostas ao maior público desatento do mundo. Submetida as intempéries do tempo, autorizadas ou não, se apropriam de espaços da cidade, suas cores, objetos e de outras inscrições que ali se encontram e disputam, com os grandes letreiros da publicidade, essa “desatenção” dos transeuntes. Muitas vezes se sobrepõem, brigam ou dialogam mas, sobretudo, criam nos muros cinza de pó, dessas edificações, novos usos para os aparatos da cidade. Através dessa poética visual transbordam para esses outros, esse povo, aquilo que têm a falar, o que se têm a ver, por meio do extravasamento de suas ideias e emoções em forma de arte.
Em suma, é um bom exercício lembrar que não estamos sós em nossas escolhas e caminhos. Portanto, aponto como referências pioneiras desses fazeres, que se apropriam do mundo, o artista paulista Nelson Leirner e a artista mineira Rosângela Rennó que, ao longo de suas carreiras, mantém extensas pesquisas através de apropriações diversas, com as quais apontam inúmeras conexões e nos lembram que para as artes que trabalham com a memória, a História é uma fonte de lembranças inexaurível!
Além de tudo é imprescindível citar os pioneiros da arte urbana mineira como Binho Barreto e Xeréu, que se aventuravam nas paredes de Belo Horizonte e inscreveram suas lendas em nossos muros, circulando-as muito além de seu nome. Ao deixarem um legado, este foi herdado por outros artistas como Alexandre Rato, Desali, Froiid, Pedro Ninja, Tot PDF, dentre tantos outros que, ainda que anônimos, fazem uso das linguagens do Grafite, da Pichação e dos Stickers e conferem visibilidade as suas mensagens, apropriando-se dos espaços “invisíveis” da cidade. Através dessas intervenções inserem imagens e códigos na paisagem urbana que acabam, através do bombardeamento de suas mensagens, insistindo que são arte.
CRO, Flávio. Ruas, 2018, fotomontagem de apropriações de arte urbana, de cima para baixo: Amazonas, Cristina, Itaú, Camargos. 50 x 50 cm.
A série Ruas foi apresentada pela primeira vez na revista Tangerine #6, assim como nas duas exposições que compuseram os seus eventos de lançamento e também no Bate Papo que as encerrou. A primeira exposição foi realizada na Galeria de Arte do Centro Cultural SESIMINAS de 08/11/2018 à 02/12/2018. A segunda mostra ocorreu no Espaço Cultural da Escola de Design da UEMG, na Praça da Liberdade de 13/03/2018 à 06/04/2019. No encerramento da mostra foi realizado um Bate Papo entre os artistas participantes da mostra e a artista Si Ying Man, a qual convidei para executar a performance: Pesquisa.
A realização da segunda mostra foi importante para a Escola de Design, pois atuou como uma tomada de posse de um edifício histórico na cidade que ficou anos em reforma na promessa de abrigar a maior faculdade de Design de MG e que, com a mudança na gestão do Estado, corria risco de desapropriação e venda. Ela também aconteceu concomitante a exposição Raiz do artista chinês Ai Weiwei, no CCBB BH, uma das mais visitadas e questionadoras exposições daquele ano.
CRO, Flávio. Ruas, 2018, fotomontagem de apropriações de arte urbana, de cima para baixo: Amazonas, Cristina, Itaú, Camargos.
50 x 50 cm.
Pedro Vilela, Da série: Solitude Is Bliss. Fotografia.
João Paulo Costa. Sem Título. Fotografia.
Mariana Tanure, Desvendando Possibilidades. Fotografia.
Tatiana Pontes, Procura-se [por um diálogo fotográfico]. Postais e texto.
Coletivo RASTELO: Luís Américo, Eduardo Lamark, Renato Durante, Arthur Faria, Maicon Corleone, Distorção. Fotografia.
Bruna Aranha, RG. Colagem fotografias digitais.
Rafael Andrade, Amarelow. Fotografias e editas.
Luís Felipe Américo, Casamento Grego. Fotografia de celular.
Kawany Tamoios, Verter. Fotomontagens.
Daniel Loureiro (Liro), Antes da Interpretação. Antes da interpretação. Fotografia.
Débora Costa, Elisa Valadão, Jean de Jesus, Priscila Costa, Thais Rovesse, Sem Título. Colagens fotográficas digitais.
Débora Costa, Elisa Valadão, Jean de Jesus, Priscila Costa, Thais Rovesse, Sem Título. Colagens fotográficas digitais.
Hermano Lamas, Sem Título. Fotografia.
Genesco Alves, Diário Caribenho. Fotomontagens.
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