CRO, Flávio; VIANNA, Letícia. De Portinari em Portinari BH. 2018. Frame da videoperformance. Ação de pedalar da Casa FIAT em direção aos diversos “Portinaris” espalhados pela cidade de Belo Horizonte desenhando os percursos sobre mapas e projeção de vídeo. 205,83 km/13 h/10 dias/1:45 min.
Vídeos no trânsito: João PFA.
De 14 de maio a 14 de junho de 2018, participei da Residência em Arte Digital da Casa FIAT de Cultura, uma parceria entre o curador Pablo Gobira, professor da Escola Guignard da UEMG e coordenador do LAB|FRONT, grupo de pesquisa que auxiliou na produção de todo o processo junto ao educativo da instituição. Durante a residência convivemos em um espaço, montado pela CASACOR, que funcionou como um coworking, no qual pude desenvolver e ampliar um projeto de atravessamento da Arte pelo esporte, em consonância com o meio digital, além de ampliar suas possibilidades de apresentação graças a convivência com o grupo presente: Alexandre Milagres, Augusto Lara, Thiago Amoreira, Guilherme Xavier, Fabrício Lins, Mari Moraga e Letícia Vianna. Formei uma parceria com a designer Letícia Vianna, e condensamos a imensa quantidade de informação produzida ou pedalada, com um trabalho de edição que amalgamou as diversas camadas de dados em um vídeo que, como nos disse o artista Ariel Ferreira: "miniaturizou o tempo dessas memórias..."
O resultado das pesquisas artísticas foi apresentado ao público na exposição Cidades e Outras Passagens (2018), de 4 de julho a 5 de agosto, na Piccola Galeria da Casa FIAT de Cultura. Assim como em outras duas versões, uma sonora, apresentada no SAD (seminário de Arte Digital) em 2019 e um "corte", que circulou em algumas cidades da América do Sul no Museo de Arte Digital a Cielo Abierto da BIENALSUR de 2019.
CRO, Flávio; VIANNA, Letícia. De Portinari em Portinari BH. 2018. Videoperformance. Ação de pedalar da Casa FIAT em direção aos diversos “Portinaris” espalhados
pela cidade de Belo Horizonte desenhando os percursos sobre mapas e projeção de vídeo. 205,83 km/13 h/10 dias/1:45 min.
Vídeos no trânsito: João PFA.
CRO, Flávio; DANIEL, Nunes; VIANNA, Letícia. De Portinari em Portinari BH Sonoro. 2019. Videoperformance e composição sonora. Composição musical de "fotografias" da paisagem sonora de Belo Horizonte realizadas em ação de pedalar da Casa FIAT em direção aos diversos “Portinaris” espalhados pela cidade de Belo Horizonte desenhando os percursos sobre mapas e projeção de vídeo. 205,83 km/13 h/10 dias/2:06 min.
Vídeos no trânsito: João PFA.
CRO, Flávio; VIANNA, Letícia. De Portinari em Portinari BH Cut. 2019. Videoperformance. Ação de pedalar da Casa FIAT em direção aos diversos “Portinaris” espalhados pela cidade de Belo Horizonte desenhando os percursos sobre mapas e projeção de vídeo. 205,83 km/13 h/10 dias/30s.
Vídeos no trânsito: João PFA.
Vídeos no trânsito: João PFA.
Vídeos no trânsito: João PFA.
Vídeos no trânsito: João PFA.
A performance foi realizada com pedaladas que partiram da Casa Fiat de Cultura em direção a
obras de Cândido Portinari ou que levam o seu nome, espalhadas pela cidade de Belo
Horizonte, como por exemplo, o Painel de Portinari presente na Igreja de São Francisco
de Assis, na região da Pampulha. Outros exemplos de destino podem ser notados abaixo.
Para tanto no início de cada pedalada foi efetuada uma fotografia digital e uma “fotografia
sonora” de dez segundos de duração, em média, da Casa Fiat de Cultura ou
proximidades, assim como no destino final. A atividade foi gravada utilizando um aplicativo
de celular denominado Strava, que salva o percurso e sobrepõe como um desenho ao
mapa da cidade, assim como insere, no mesmo, as fotografias tiradas, a partir das
coordenadas compartilhadas pelo GPS do celular. As
conexões do Strava também permitiram a conversão, desses desenhos cartográficos, em
animações digitais dos percursos utilizando o app Relive. Todos
os aplicativos permitiram o compartilhamento das atividades em diversas redes sociais
virtuais. O resultado final do processo foi produzido a partir de um vídeo mesclando os
processos.
CRO, Flávio. De Portinari em Portinari CCSF. 2018, impressões sobre ímãs em placa de metal adesivada de uma performance de desenhar o percurso entre "Portinaris" no mapa de Belo Horizonte usando GPS: da Escola Estadual Cândido Portinari a Casa FIAT de Cultura, 5 x 4,5cm cada; 50 x 45cm a placa.
Design gráfico dos ímãs: Marcelo Bambirra.
Design gráfico dos ímãs: Marcelo Bambirra.
A Convite do curador, artista e professor do Escola Livre de Artes Arena da Cultura, da FMC-BH, Marconi Marques, outro desdobramento do trabalho foi realizada para a exposição In-Manta (2018), realizada no Centro Cultural Salgado Filho, de 11 de agosto a 11 de outubro. O percurso pedalado da Escola Estadual Cândido Portinari a Casa FIAT de Cultura, foi convertido em pequenos ímãs, pedaços de memória, que puderam ser compartilhados com o público.
CRO, Flávio. De Portinari em Portinari. 2018, Registros da Performance.
A
proposta
executada, durante
a residência, gerou
percursos que
compactuam com o tamanho da cidade na
forma de desenhos
expandidos. A
aplicação desse conceito foi possível ao mesclar o ato de desenhar
com o de pedalar, em vez de usar uma parte do corpo específica, como
as mãos, para gerar um traço em uma pequena superfície, fiz uso do
corpo, como um todo e da bicicleta, para “riscar” essas linhas
pela cidade de Belo Horizonte.
O
corpo sempre foi algo presente no fazer artístico, mesmo
porque não
podemos abandoná-lo durante nosso fazer, mas durante grande parte da
história da arte o corpo ficou a margem do fazer, escondido frente
ao resultado final, apagado em relação a obra que se vê ou
ficcionalizado por ela como seu tema.
Na
proposta De
Portinari em Portinari BH
essa
expansão física do desenho foi apropriada
através dos
mapas e vídeos virtuais gerados
pelos aplicativos, de
maneira
a expor
os resultados no
videowall
da
instituição, para
que
o
público posso
conectar a
estrutura/arquitetura da cidade, assim como visitar
e articular
parte de sua história, na
medida que frequenta a da cidade e a
dessa casa de cultura
– a exposição desses percursos também é um convite para que
possam
pedalá-los.
A
apropriação e modificação dos registros
fotográficos e audiovisuais
a
partir da sua recriação em uma
animação digital também
encontra
eco
em artistas pioneiros
da
video
arte como
o sul-coreano
Nam
June
Paik e o
brasileiro Eder
Santos,
de
forma que não é uma escolha isolado no meio artísitco.
Retornando
a questão dessa
imersão no esporte-arte, gostaria
de lembrar que essas
particularidades
foram possíveis de serem ampliadas graças ao meu interesse
pela bicicleta,
um
veículo
que incentiva a mobilidade e que
é, no momento atual, uma peça fundamental para as
estratégias
e as políticas de sustentabilidade criadas pelo Estado, organizações
civis ou ativistas independentes,
pois
nos
propicia experimentar a cidade a partir do
esporte,
além de mediar a conexão entre todos esses “Portinaris”, pelos
fios tecidos nos mapas, formando uma rede de conexões antes
invisível.
No
artigo
Biografia,
corpo, espaço,
a educadora francesa Christine Delory-Momberger nos apresenta uma
articulação do conceito e emprego da geografia, da cronografia e da
biografia de maneira deveras bem inusitada. Segundo a pesquisadora,
ela lê o primeiro como uma espécie de escrita do espaço, o segundo
como uma escrita do tempo e o terceiro enquanto uma escritura da
vida. Ao aproximar esses três conceitos nos faz notar o corpo como
um espaço, mas um espaço pioneiro com o qual experimentamos o
mundo, espaço esse que se locomove pelo tempo, ou seja, nos faz
perceber que a experiência do corpo não se fixa nem no tempo,
tampouco no espaço, mas que a prática da nossa existência demanda
mobilidade na interdependência de um espaço que é tempo, corpo e
vida. Essa imersão e busca de confundir ou esclarecer o corpo como
espaço-tempo, pode ser percebida nas práticas de muitos artistas.
Um destes é o artista francês Yves Klein, cuja fotografia Salto
para o Vazio,
de 1960, instaura uma lenda na qual o artista emprega sua habilidade
como judoca para performar um salto no vazio. Sem esquecer das
mitológicas pedaladas do artista alemão Joseph Beuys, rumo as suas
exposições. Já mais recentemente o artista brasileiro Shima, passa
a desenhar na cidade, ele inscreve seu corpo na matéria da mesma com
suas corridas. Já
a artista brasileira Elen Braga, no seu trabalho Levantamento
de Peso com a Cabeça,
também experimenta os limites do uso do corpo na arte ao
exercitar-se em uma atividade com alto risco de lesões físicas.
Afastando-se
da arte e buscando o esporte, constatamos ser uma tarefa injusta
relatar seus afeitos para homenagear todos os adeptos dessa prática
do corpo, enquanto espaço, que coordena não só um aprendizado
mental como um aprendizado físico, já que vislumbramos essa vocação
como algo que acompanha a humanidade desde o princípio de sua
existência e
inúmeras são as modalidades, assim como os praticantes.
Já
no
título da proposta:
De
Portinari em Portinari BH
faço
um trocadilho com a expressão “de porta em porta”, muito comum
aos caixeiros viajantes que marchavam e ainda marcham por nossas
estradas com as malas cheias de mercadorias, as mais variadas e a
cabeça cheia de sonhos. Apropriar-se de sonhos e recriá-los nas
mentes dos homens é uma das mais antigas expectativas conectadas ao
artista e algo que busco com este trabalho. A
partir do texto colocado acima, destaco um conceito que perpassa por
todo esse projeto, e estrutura suas bases, o da apropriação.
Afonso
Romano de Sant’Anna (2003), realiza um estudo sobre a paródia e a
paráfrase que nos ajuda a perceber que para além dessa ideia do
roubo ou do plágio, a arte sempre se valeu de suas próprias
construções para se criticar ou reafirmar, fazendo com que suas
proposições se perpetuem e se renovem, junto ao trabalho de outros
artistas, com o passar do tempo. Por exemplo, para ele, mais do que
adaptar uma ideia através da ratificação das palavras de um autor,
a paráfrase a traduz, focando na preservação dos sentidos do texto
e reproduzindo-os através da sua interpretação. Já a paródia
busca perverter os sentidos originais de uma obra, exagerando ou
invertendo suas características para se diferenciar do original,
muitas vezes ironizando-o. Nas palavras do pesquisador:
a
paródia, por estar do lado do novo e do diferente, é sempre
inauguradora de um novo paradigma. De avanço em avanço, ela
constrói a evolução de um discurso, de uma linguagem,
sintagmaticamente. Em contraposição, se poderia dizer que a
paráfrase, repousando sobre o idêntico e o semelhante, pouco faz
evoluir a linguagem. Ela se oculta atrás de algo já estabelecido,
de um velho paradigma. (SANT’ANNA, 2003, p. 27-28).
Para o pesquisador
o conceito de apropriação alinha-se com a ideia do deslocamento:
quando é pequeno, quando aquilo que é apropriado se sobressai e o
reconhecemos na nova proposta, ela se compara à paráfrase. Mas no
momento em que vai além da reprodução e produz algo diferente,
principalmente criticando esse “original”, ela se associa à
paródia.
Dois
artistas que trabalham com
e
são referências para as práticas da apropriação na arte
contemporânea são o chinês Ai Weiwei e o brasileiro Nelson
Leirner. Ao
destacar estes
artistas que possuem
uma
reconhecida importância
no cenário da arte atual,
percebemos que
sua
pertinência transpõe a análise das apropriações realizadas
nesta proposta,
visto que toca uma estratégia amplamente empregada por diversos
artistas contemporâneos. A referência, portanto, permite
compreender aspectos da prática da apropriação como estratégia
largamente empregada e de importância central na arte atual, saindo
de um contexto anteriormente
considerado “marginal”
para ocupar o mainstream da arte contemporânea.
CRO, Flávio. De Portinari em Portinari. 2018, Registros da Performance.
Cartaz da exposição na Casa FIAT de Cultura
Obras expostas na Piccola Galeria da Casa FIAT de Cultura
Thiago Amoreira
Trilha Sonora: Fabrício Lins.
Trilha Sonora: Fabrício Lins.
Extrações de Alexandre Milagres.
Trilha Sonora: Fabrício Lins.
Mineiras de Mari Moraga
Extrações de Alexandre Milagres
Pixel Arte de Guilherme Xavier
Portinari Aumentado de Augusto Lara e Thiago Amoreira
Making-of dos projetos exibidos.
CRO, Flávio; VIANNA, Letícia. De Portinari em Portinari BH. 2018. Frame da videoperformance. Ação de pedalar da Casa FIAT em direção aos diversos “Portinaris” espalhados pela cidade de Belo Horizonte desenhando os percursos sobre mapas e projeção de vídeo. 205,83 km/13 h/10 dias/1:45 min.
Vídeos no trânsito: João PFA.