quarta-feira, 17 de julho de 2013

Quem Acordou...


Belo Horizonte, junho de 2013.


Quem acordou...

Olhe para eles, são sonhadores! E, no futuro, quando todos virarmos pó, serão seus sonhos que perseverarão...


O sexto mês do ano trouxe para os gramados o futebol, mas no mesmo instante que a bola rolou, rolou um flashback: 500 anos de ESTUPRO dardejaram a mente dos brasileiros! Estupro? Bem essa é única palavra que conheço que consegue se aproximar da violência física e psicológica com a qual fomos fustigados durante esse séculos, uma palavra que carrega um trauma, um horror inenarrável. Sim! O povo brasileiro foi estuprado ao longo de sua história, por organizações políticas e seus representantes despóticos, ou déspotas "eleitos", que nos usurparam o poder e deixaram nossa alma descarnada. 



Quem viu as ruas tomadas, presenciou uma mudança viral na paisagem das cidades, pois aqueles que se sentiam expulsos da mesma, passaram a tomar conta dela, a reivindicar aquilo que lhes foi tomado a força e a notícia se espalhou e contaminou. O que nós queremos? Nós queremos nosso poder de volta! Durante séculos fomos considerados um povo passivo, que não reage, que aguenta tudo cantado na letra do samba. Quem levantou foi o povo! E levantou com Raiva! Povo: classe média, estudantes, trabalhadores, etc., e as favelas que se entronaram nas ruas sobre os bastiões do poder, esbravejando sua dor em gritos, em pedras, contra os símbolos desse poder que tanto nos oprime, corporificados em suas sedes...



E é claro que isso assusta! Tão logo a fumaça subiu alguém correu para apagar o fogo. A grande massa midiática entornou seu balde sobre os "vândalos", tratou logo de pichá-los - pois ela é a verdadeira pichadora – coincidência ou não eram aqueles que estavam atacando os dragões do estado com a única arma que possuem: seus corpos! Nessa estratégia de "domesticação" do movimento passou a propagandear, através das falas de seus repórteres, as qualidades que uma manifestação deveria exaltar para se legitimar, ou seja, elas devem ser pacíficas, tranquilas, bonitas, etc.; apelando para as qualidades estéticas que ficariam bem e não fariam mal algum se mostradas na televisão. Veja mundo nossos belos e educados manifestantes! E o mundo viu e gritou de volta: Debord! Nós ainda vivemos na sociedade do espetáculo!



Através dos alto faltantes da caixa mágica incitavam que os "vândalos" fossem contidos, ao que tantos outros respondiam aos berros de sem violência e corriam em fúria para linchar aqueles que depreciavam a beleza do movimento, para expurgar os indesejáveis. A ordem é amputar braços e cabeças, pois, assim desmembrados, não haverá revolução! Nessa tentativa de endireitar o movimento esbravejou-se e o que retornou, nessa passeata, neste ato de passear, foram os ecos da ditadura. Período curto, mas parece que esqueceram que a população se levantou para marchar, e quem marcha, marcha para LUTAR!

Flávio CRO




"Me entristece perceber que o que de fato "acordou" foi o patrimonialista pequeno-burguês que existe em cada um de nós. A polifonia de pautas e reivindicações legítimas que assisti surgirem aqui nos últimos dias estão progressivamente dando lugar à um grito uníssono contra o "vandalismo" que, não por coincidência, é exercido sobre os símbolos maiores da violência a que é submetido, desde sempre, o povo brasileiro (não é à toa que são prédios "históricos"): os bancos, que se apropriam perversamente de toda atividade produtiva, e os velhos edifícios oficiais, onde estão instalados os maiores inimigos da nação. Nas páginas dedicadas aos movimentos temos o surgimento de pequenas gestapos que, do conforto de seus lares, promovem perseguições à pessoas que, até ontem, estavam juntas, na linha de frente, enfrentando balas de borracha e bombas de gás. Como a Leilane Neubarth, nos vemos repetindo, ad nauseam, como papagaios amestrados, os clamores de "não-violência" e "contra o vandalismo", que foram emanados, inicialmente, pela Rede Globo, Estadão, Folha, e outros próceres do PIG, veículos que, não por acaso, falam justamente em nome daqueles que estão vendo seu patrimônio ser depredado: os banqueiros e donos do poder. 

Se a direita plantou mesmo infiltrados para promover quebra-quebra e vandalismo, ela só o fez porque sabe que tais atos iriam calar fundo na alma da classe média hipócrita, que se compraz em chorar por algumas vidraças quebradas, mas que silencia frente a tantos outros "vandalismos" cotidianos, perpetrados pelos donos do poder, contra os índios, os favelados, os homossexuais, em suma, contra todos aqueles que são "indesejáveis". E, como num passe de mágica, o próprio movimento criminaliza-se a si mesmo, promovendo sua implosão debaixo de brados de que "isso não me representa", e expurgando seus indesejáveis, do mesmo modo que fazem aqueles contra os quais supõe-se estar lutando.



Não me levem a mal, isso não é um elogio à violência ou uma ode à destruição do patrimônio público. Apenas chamo atenção para o fato, muitas vezes esquecido, de que as pessoas são, ou deveriam ser, mais importantes que as coisas. Se as pessoas querem manifestar sua indignação por meio da destruição das coisas, que seja! A partir do momento em que isso nos é indiferente, a estratégia da direita, de infiltração de "baderneiros", se torna, automaticamente, ineficaz. Uma manifestação não-violenta contra o poder é possível, mas é preciso entender que um protesto, seja ele qual for, nunca é pacífico." (Pedro...)


Texto virulizado no facebook...



Só não entende o que está acontecendo nas ruas quem não foi para as ruas. Ontem, em São Paulo, os pobres, os miseráveis, os excluídos tomaram as ruas para protestar com as únicas armas de coerção que conhecem, a violência. Não foi uma "minoria" de vândalos que atacou a prefeitura. Nem os punks ou os integrantes do Black Bloc. Eles estavam lá e participaram, é verdade, mas não foram eles que por pouco não colocaram a baixo o símbolo do poder municipal, assim como não foram eles que destruíram o portão do Palácio dos Bandeirantes.



Quem atacou a prefeitura, desde o começo, foi o povo. Foi gente que está ali no centro todo dia trabalhando, gente que mora nas ruas, gente, muita gente, que veio das periferias participar dos protestos. Uma senhora, senhorinha mesmo, foi simbólica nesse ponto, para mim. Ela chegou bem perto da porta da prefeitura, onde o caos imperava após a saída da GCM, e passou a atirar pedras contra o que restava de vidros. Algumas pessoas tentaram contê-la. "Tia, sai daqui, a senhora vai morrer", diziam. E ela: "Me deixa, eu tô com raiva, eu tô com muita raiva". Após uma negociação entre ela e seus contentores, chegou-se a uma conclusão: "Eu saio, mas me deixa jogar mais duas, eu to com muita raiva". E mais duas pedras portuguesas voaram em direção às vidraças.



Toda a sorte de violência que essa parcela da população sofre veio à tona ontem, por mais que os representantes da classe média tenham feito o máximo de esforço para conte-los. No meio do caos, estabeleceu-se, quase, uma luta de classes e raças para definir qual a melhor estratégia de luta. De um lado, jovens brancos e educados, em sua maioria, tentavam argumentar que esse não era o caminho, que isso era o que a "mídia burguesa" queria, que não havia "estofo ideológico" para isso. Do outro, jovens pardos, negros, filhos de nordestinos, apenas ameaçavam. "Eu vou quebrar, sai da minha frente, playboy, senão vai sobrar pra você".



Foi assim na porta lateral da prefeitura, onde os manifestantes - sim, eles também são manifestantes - tentaram arrombar a porta fazendo dos tubos metálicos de sinalização de trânsito uma aríete. Um rapaz, loirinho, de cabelos cacheados, vestido de super-homem, tentava convencer um bando de rapazes da periferia paulistana a não invadir a prefeitura. "Pessoal, tem gente la dentro, alguém vai se machucar, para com isso". Um rapaz, moreno, apenas com os olhos a mostra, explicou em detalhes, o que lhe aconteceria: super-homem, sai daqui senão tu vai virar a mulher maravilha". O super-homem, ciente estar diante da Kriptonita, partiu.



A polícia, que abandonou a cidade, só apareceu quando as lojas começaram a ser saqueadas. Quando eram apenas as agências bancárias, donas de cofres impenetráveis por um bando de "arruaceiros", não houve problema. Mas quando as lojas Marisa ou as Americanas passaram a ser o alvo, um grupo de policiais surgiu. Prendeu algumas pessoas, mas foi posto para correr pela multidão. A cidade, como diziam, era deles. Dos pobres, dos miseráveis, dos nóia, dos meninos de rua, dos jovens da periferia. Pela primeira vez, em muito tempo, entraram nas Lojas Americanas sem serem perseguidos pelos olhares dos seguranças. E muita gente só entrou para destruir. E muita gente realizou o sonho de ter uma TV bacana ou um notebook.

Simplesmente criminalizar o que houve ontem no centro de São Paulo é aumentar o fogo sob a panela de pressão da incrível desigualdade social centenária deste país. E principalmente de São Paulo, a verdadeira cidade partida. Não é possível que continue-se a acreditar que os bandidos pardos, negros e periféricos são bandidos porque este é seu DNA, porque não gostam de trabalhar, porque, enfim, são assim. Ontem, no centro de São Paulo, essa massa mostrou que está cansada de ficar à margem. Muito cansada. E não serão R$ 0,20, de fato, que aplacarão a raiva. 


O urubu bateu asa e a classe e a jovem média paulistana, que o alimentou pensando em se tratar de um vistoso sabiá, está assustada. Afinal de contas, os clamores de "Sem Vandalismo" que entoaram durante as passeatas não fazem sentido para a massa daqueles que realmente sofrem com o trânsito massacrante da cidade, com a polícia assustadoramente violenta. Por não terem a raiva a lhes alimentar a alma, os jovens que foram às ruas com cartazes dizendo "Saímos do Facebook", não entenderam o poder da raiva. E com a raiva não se brinca.
BOECHAT, Yan
Fonte: 
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=637847622910085&set=a.143466532348199.22136.100000545587536&type=1&theaterYan Boechat




Postado em: 19 jun 2013 às 15:26

“Estamos preocupados com o rumo que esse levante popular pode tomar e com a associação dele a um discurso midiático vazio”

Camila Petroni e Débora Lessa*, Brasil de Fato
O intuito da pequena reflexão que segue não é desmoralizar os atos ocorridos em diversas cidades brasileiras, que começaram contra o aumento das tarifas de transportes públicos, no início de junho, e, hoje, apresentam “pautas” variadas. É justamente a pulverização dessas motivações que nos preocupam. Quais são os motivos da luta mesmo?
direita protestos
Infiltração conservadora nos protestos pode desvirtuar o movimento (Imagem: Divulgação)
Na página virtual (Facebook) do Quinto Ato, marcado para o dia 17 de Junho e com mais de 240 mil pessoas com presença confirmada (já esperando os ataques bárbaros da Polícia), as enquetes conseguem fazer qualquer queixo que se preze cair. Em uma delas, que perguntava qual bandeira deve-se levantar após a baixa dos preços das passagens (se houver), algumas das propostas colocadas como motivo de mobilização (mesmo que não muito votadas) são: cancelamento da Copa do Mundo 2014 (um tiro no pé, com todo o investimento já feito), Reforma Política (que reforma?), Segurança (mais PM nas ruas?), Diminuição da maioridade penal (sem comentários), Fim do Funk (projeto higienista manda um “Oi!”), a favor do Estatuto do Nascituro (sem comentários, de novo), CCC – Campanha Corruptos na Cadeia (não tinha um nome melhor? Quase um CCC – Comando de Caça aos Comunistas – de 1964), dentre outras propostas que preferimos não imaginar o que aconteceria caso ganhassem força.
Se por um lado, a heterogeneidade de propostas e a falta de uma liderança nos movimentos representa a possibilidade de uma relação horizontal entre os sujeitos; por outro, a falta de direcionamentos aponta para o risco de causas conservadoras se tornarem as principais do movimento agora sem nome. Não consideramos o quadro atual da manifestação como anárquico, classificação feita em algumas análises, mas como preocupante, nesse sentido.
Outro ponto bastante incômodo em relação às pessoas se organizando para o ato (e a fim de formar um movimento – longe de estar unificado), é o (perigoso) nacionalismo proposto por boa parte dos manifestantes, e presente principalmente na ideia de entoarem o Hino Nacional em coro. Em uma enquete, feita também na página de organização do ato da segunda-feira (17), a maioria esmagadora era a favor de que cantassem o Hino em massa. A verdade é que sentimentos ufanistas assustam, sobretudo por sabermos, historicamente, que nunca geraram bons frutos. Estudos apontam que o ideário nacionalista brasileiro, em sua trajetória, poucas vezes chegou às classes populares (por que será?), pertencendo aos militares. Um comentário bastante sensato feito na mesma enquete, colocou que o “hino é um instrumento que forja uma falsa unidade nacional”. Se a mundialização do capital está posta, a necessidade da mundialização da luta é latente. Para isso, nada de bandeiras do Brasil em volta de nossos corpos, nada de “pátria amada, idolatrada”.
É batido, mas Marx já justificara por A + B que “os operários não têm pátria” e, por mais que devamos lutar pelas condições horrendas as quais nos coloca o capitalismo, isso não tem a ver com o “orgulho de ser brasileiro”, mas com o orgulho de sermos humanos.
E aqui nasce uma nova preocupação: até ontem pairava no ar um espectro do oportunismo da “grande” mídia, que, aparentemente, pareceu ter sido desmistificado com as recentes publicações da Globo e seus atores com olhos pintados fazendo uma alusão à jornalista acertada covardemente com uma bala de borracha no olho, depois nos deparamos com um link a ser compartilhado nas redes sociais que trazia dicas de “Moda para protesto, roupa de guerra” – a estilista pop global, Gloria Kalil, já havia soltado no site dela opções de roupas (sic!) para ir ao ato. Agora, qualquer dúvida que ainda tínhamos sobre um possível oportunismo ficou clara ao nos depararmos com – o sempre tão incisivo – Arnaldo Jabor voltando atrás em relação a quando deslegitimizou as primeiras manifestações comparando-as com ações do PCC, vitimizando os policiais e ressaltando a ignorância política dos manifestantes. Ele se redime e depois compara o movimento ascendente com o, exaltado pela própria Globo, Caras Pintadas (o movimento pode ter se originado de uma indignação, mas logo foi absorvido pela maior rede de TV do Brasil… Ah! A mesma emissora que ajudou na eleição do Collor). Daqui a pouco, veremos propagandas de refrigerantes convocando o Brasil pras ruas, presenciado o maior “jogo” já visto… A arte de mercantilizar a revolução.
protestos brasil conservadores pátria amada
(Imagem – Reprodução)
Pra não dizer que não falamos dos espinhos, ter os povos nas ruas, em massa, não é sempre sinal de mudança popular. Em 1964, os setores conservadores da sociedade tremeram com a “ameaça comunista” (ainda com Jango no poder), que representava, na verdade, uma “ameaça” à propriedade privada e foram às ruas, em meio milhão de pessoas, com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Dias depois, instaurada a Ditadura Militar, um milhão de pessoas marcaram presença na Marcha da Vitória, comemorando o início de duas das piores décadas que já vivemos. Estamos preocupados com o rumo que esse levante popular pode tomar e com a associação dele a um discurso midiático vazio.
Não queremos ver uma marcha à la TFP, com pessoas vestidas de branco, cantando o hino e levantando bandeiras com os dizeres “Cansei”. Precisamos de sujeitos engajados em uma luta comprometida com os movimentos sociais e populares, aliados aos anseios dos trabalhadores!
Reiteramos, mais uma vez, nosso ânimo e contentamento em viver tudo isso, mas mantenhamos os pés no chão para não defendermos um discurso uníssono no qual o senso comum pode se misturar com o que deveria ser um discurso crítico e de esquerda.
Camila Petroni é historiadora pela PUC-SP, Assistente Editorial e mestranda em História Social pela PUC-SP. 
Débora Lessa é socióloga pela PUC-SP, Professora de Sociologia e mestranda em Ciência Política pela PUC-SP.
PETRONI, Camila; LESSA, Débora. Os Perigos do "Pátria Amada", 2013.
Fonte: 
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/06/os-perigos-da-infiltracao-conservadora-nos-protestos.html




Forte esse vídeo. 



Aí é que me vem os questionamentos sobre o que são movimentos pacíficos, movimentos passivos, revolução e essas coisas. 



Na segunda feira presenciei toda a violência junto à outras milhares de pessoas rumo ao Mineirão, observei que em meio a milhares de pessoas, sempre terão os odiosos em meio à manifestações pacíficas. Ví gente tentando reprimir os vândalos sem sucesso, pois era visível o ódio nos olhares dessas pessoas. É muita carga histórica, muita injustiça, muita repressão, muita força bruta usada contra essas pessoas, as pessoas querem se "vingar" de alguma forma, descontar a raiva em alguém ou alguma coisa. Nós, protestamos em busca de melhorias em coisas que é até difícil de enumerar e penso que a galera revoltosa também! 



A partir disso me vem alguns questionamentos (que postei em outra discussão e achei relevante colocar aqui):



Como fazer manifestação pacífica quando você tá caminhando em uma direção e vem um bloco do batalhão de choque e começa a atirar bombas e dar tiros de borracha em você e seus amigos? Quando você vê pessoas de bem sendo massacradas pela policia, sem nenhum remorso? Quando a policia simplesmente CERCOU os manifestantes (não tinha como ninguém ir embora) e deram tiro, porrada, jogaram bombas e machucaram muita gente! Um rapaz caiu na trincheira pois sabe-se lá quantos policiais estavam indo em sua direção, quase morreu. Foi muita covardia o que aconteceu em Belo Horizonte.

Aí você tá lá no meio, tava lá, feliz da vida que o povo tinha "acordado" e de repente seus amigos machucados, todos ao seu redor apavorados, perdidos, desorientados, como você reage? Joga cartaz de papelão neles? Dá flor pra eles? Manda beijinho? Bunda lelê?


Manifestação PACÍFICA é uma coisa, Manifestação PASSIVA é outra. A galera tá descontando anos de repressão e temos que aprender a conviver com isso também.
Não achei o vídeo de BH, mas ontem, no centro, os manifestantes só conseguiram correr pq alguns ficaram para segurar a polícia, que atacava indiscriminadamente









Ouça o comentário de Ricardo Boechat no dia seguinte aos protestos que levaram 1 milhão às ruas
Acompanhe o comentário de Ricardo Boechat, na manhã desta sexta-feira (21), sobre as manifestações que ocorreram em mais de 100 cidades em todo o país, na noite de ontem.


http://bandnewsfm.band.uol.com.br/Noticia.aspx?COD=669727&Tipo=227

BOECHAT, Ricardo. Comentário, 2013.
Fonte: http://bandnewsfm.band.uol.com.br/Noticia.aspx?COD=669727&Tipo=227



"RELATO DO QUE ACONTECEU ONTEM


Depois de receber informações de outros participantes do grupo de que havia pessoas presas na Delegacia de Venda Nova, me desloquei o mais rápido que pude para lá, juntamente com outra advogada (Luana Areda), a fim de prestarmos apoio jurídico aos mesmos. Entretanto ao chegar lá, nos encontramos com mais dois membros do grupo (Sabrina e Otávio) e fomos informados pelo delegado de plantão de que ele havia sido informado, num primeiro momento, por uma Promotora de Justiça que as ocorrências registradas na manifestação estavam sendo encaminhadas para lá. Entretanto, logo depois, ele nos chamou em uma sala e nos disse que o delegado regional de Venda Nova tinha entrado em contato com ele dizendo que todas as ocorrências seriam encaminhas ao CEFLAN, que fica na Pouso Alegre. Imediatamente nos deslocamos pra lá. Ao chegar fomos informados que não havia ninguém preso lá, e não havia chegado nenhuma ocorrência relativa às manifestações. Ora, ficou claro que havia alguma coisa errada. Já passava das 22:00 da noite. Presenciamos a praça de guerra que se tornou a avenida Abraão Caram e ficamos sabendo que na Praça Sete houve algo parecido ou até pior, e NENHUMA OCORRÊNCIA havia sido feita? Nenhuma prisão? Óbvio que havia alguma errada. Já era quase 23:30 da noite decidimos ir embora, pois, não tínhamos nenhuma notícia de nenhuma ocorrência. Sabíamos que deveriam ter pessoas presas, mas não tínhamos como saber onde, nem quantas, nem nada, ou seja, não havia o que fazer. Já no caminho pra casa, recebi uma msg no celular dizendo que na 4ª CIA da PMMG (Rua da Bahia) havia muita gente detida. Então, eu a Luana nos deslocamos imediatamente para lá. Quando chegamos, vimos que havia mais dois advogados lá, que não fazem parte do nosso grupo e tbm tentavam ajudar. Eles nos disseram que tentaram conversar com os presos e a PM não permitiu. Entrei no local, me identifiquei como advogado e mesmo assim não me foi permitido ter com os detidos. Pude ver que havia várias pessoas no hall de entrada da CIA esperando para serem ouvidas (vejam as fotos). Ao conversar com eles pela janela, eles me disseram que lá dentro havia muitas outras pessoas detidas, entre elas menores e mulheres, e havia, inclusive, um estrangeiro que teria sido espancado pelos policiais. Nem mesmo com a presença de delegado de prerrogativas dos advogados nos foi franqueada a entrada. Ou seja, aqueles pessoas já estava a horas sob custódia da PM completamente INCOMUNICÁVEIS, num flagrante desrespeito à CRFB e ao Estatuto da Advocacia. Presas num local inadequado, sendo homens, menores e mulheres todos juntos. Depois de várias tentativas infrutíferas, a palavra final da PM foi manter as pessoas incomunicáveis, sendo que nos disseram que tão logo a ocorrência fosse encerrada, tais pessoas seriam levadas para a CEFLAN. Como vimos que ali não seria nada resolvido, nos dirigimos para a CEFLAN para acompanhar a oitivas das pessoas e atuarmos ali naquele local. Depois de algum tempo, as pessoas começaram a chegar na CEFLAN. Saiam das Blazer’s da PM dizendo que haviam sido espancadas, e até mesmo mostrando papéis sujos de sangue. Consegui nesse momento conversar com uma moça e ela me mostrou os braços todos marcados pelo que, segundo ela, foram as agressões feitas pelos policiais. Ela me disse que levou tapa na cara, socos e pontapés. Havia marcas de lesões em seus braços e mãos (tirei fotos). Aos poucos as pessoas iam chegando. Entretanto, não sabíamos quantos estavam presos lá na 4ª CIA, ou seja, não era possível saber se todo mundo já havia sido levado para a CEFLAN ou se ainda havia gente lá embaixo. Num claro óbice ao nosso trabalho, nenhuma informação nos era dada. Eu e Luana ficamos até quando aguentamos esperando o início do procedimento na CEFLAN e nada era feito. Claramente estavam tentando nos vencer pelo cansaço. RESULTADO: Às 05:30 de manhã, não havia sequer iniciado o procedimento com a oitiva das pessoas que estavam lá, e nós nem sabíamos se ainda havia pessoas lá na 4ª CIA (provavelmente havia, pois tínhamos relatos de testemunhas que viram mais de 20 pessoas entrando presas lá). Não havia mais o que fazer. Liguei para a coordenadora do EDH (Escritório de Direitos Humanos, órgão ligado à SEDS) e ela esteve no local e presenciou tudo isso, juntamente com o representante da central de prerrogativas dos advogados. Quando vimos que eles estavam nos “pirraçando”, não diretamente impedindo nosso trabalho, mas, nos fazendo esperar lá fora sem que sequer começassem os trabalhos, resolvemos ir embora e entrar em contato com alguém do nosso grupo para que pudessem nos substituir no dia seguinte, eis que estávamos completamente exaustos. Bom, houve mais coisas que depois eu colocarei. Foram muitos abusos, muita ilegalidade (inclusive confessada pelo Major que estava responsável lá na 4ª CIA). Agora só me resta o sentimento de indignação e esperança (minúscula, confesso) de que alguma medida seja tomada em razão do que acontecera ontem em nossa cidade. Algo que eu só conhecia por relatos, de quem vivera na época da ditadura militar." Daniel Thadeu Assis.


ASSIS, Daniel, Relato, 2013

Fonte: texto virulizado na internet 




Ata da reunião entre o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, e 10 representantes membros do Comitê dos Atingidos pela Copa (COPAC) via Fernanda Azevedo
Da reunião foram tirados os seguintes encaminhamentos:
1. As manifestações devem ocorrer em clima pacífico
2. A resposta da Polícia Militar deve se limitar àqueles que agredirem a polícia
3. Foi acordado que na Av. Abrahão Caram, no local originalmente previsto como ponto de bloqueio das manifestações, seja instalada apenas uma barreira física, sem a presença de barreira humana de Policiais Militares. Os militares guardarão distância considerável.
4. Para o ato de 20/06/2013, amanhã, será criada uma comissão sintética de acompanhamento das manifestações, composta por um membro mediador da própria manifestação e um membro da Policia Militar
5. O Governador se pronunciará garantindo o exercício da livre manifestação e a segurança dos manifestantes
6. Será aberta uma mesa de negociação com as pautas reivindicatórias deliberadas pela Assembléia Popular Horizontal, onde serão indicados um representante para cada plataforma de reivindicação
7. Está prevista uma nova reunião com o Governador e a mesma composição desta reunião para a apresentação das pautas levantadas pela Assembléia Popular Horizontal


Fonte: texto virulizado na internet

ai vai o que testemunhei de duas quedas a de 26/07/2013 e a de 22/07/2013 :

foi por puro vacilo, tava todo mundo correndo de um lado do viaduto para o outro, por uma passagem, para ver, filmar e fotografar, japonesamente, o quebra pau do black bloc (desbaratinado) com a pm, na Anônio Carlos, e ele simplesmente ignorou a passagem!!! Passou no vão, um amigo o atendeu, mas ele estava com o cérebro para fora...

o primeiro de sábado caiu no meio fio, sangue saindo por todos os buracos da cabeça. Eu tinha acabado de levantar, andei 10m e ele caiu bem aonde eu estava, direto no meio fio... Ele também tentou atravessar o vão na ilusão...

detalhe que durante essas 2 quedas não tinham bombas da pm no viaduto, nem corre da polícia, só os "manifestantes" correndo para "ver" o show!

passou da hora é de exigir da prefeitura grades de contenção nos viadutos...

churrasco animado pelo funk do carro de som, enquanto centenas de crianças animavam tudo com pedra na mão. 


Claro tudo isso acompanhado por milhares de telespectadores que acompanhavam tudo, de camarote, pelas telas digitais de seus celulares e câmeras. BH e sua nova diversão...

as "contribuições" da globo!

http://g1.globo.com/videos/minas-gerais/t/bom-dia-minas/v/vandalos-retiram-veiculos-de-dentro-concessionarias-e-os-destroem-em-belo-horizonte/2658236/


No Sul o buraco é mais embaixo! A esquerda ta mais de direita que o nosso PSDB.



Começaram lá o que achei que seria aqui...



A Esquerda Marxista se solidariza com os militantes da Federação Anarquista Gaúcha covardemnente atacados e criminalizados pela polícia do RS e por seu governador Tarso Genro.

Publicamos abaixo um comunicado da Federação Anarquista Gaúcha sobre a invasão de sua sede e sequestro de livros pela polícia. Mas, o mais grave de tudo é o governador Tarso Genro atuar publicamente acusando-os de serem "fascistas", inclusive relembrando o que causou a 2ª Guerra Mundial. Isso é inaceitável.

Tarso faz jus ao seu passado stalinista. Não basta hoje ser um direitista total. Ele reaviva a infâmia de Stálin que acusava os trotskystas de serem agentes do fascismo,  desde 1933 e da farsa dos Processos de Moscou. Hoje, no Brasil, a burguesia e seus agentes ditos de esquerda, como Tarso, buscam estabelecer um estado totalitário. 
Os marxistas lutaram contra as calúnias stalinistas no passado e hoje estão publicamente limpos como sempre estiveram. Os stalinistas que caluniaram e falsificaram a história foram enterrados como lixo da história. 
Os anarquistas gaúchos, com cuja política não temos nenhum compromisso, podem contar com nossa solidariedade e apoio incondicional contra este ataque policial e as acusações caluniosas de Tarso Genro. 

26/06/2013 - com informações da Federação Anarquista Gaucha (FAG).

Na tarde de quinta feira (20/06/2013), antecedendo o protesto que já se previa multitudinário na capital gaúcha, ocorreu a invasão mediante arrombamento do Ateneu Libertário A Batalha da Várzea, executado por agentes policiais sem identificação. Devido a isto, no comunicado da madrugada de sexta-feira, dia 21 de junho, informamos que a invasão havia sido realizada pela Polícia Federal, afinal de contas assim se apresentaram os agentes da repressão.
Através da coletiva concedida pela cúpula da Segurança Pública do governo do RS, na tarde da sexta-feira, dia 21 de junho tivemos a informação que tal operação foi realizada de fato por agentes da Polícia Civil, omitindo-se o fato de que a operação se deu de forma ilegal, sem o correspondente mandato judicial, conforme o apurado pela assessoria jurídica que nos apóia nesse momento, de forma solidária.
Esta coletiva de imprensa portanto não poderia anunciar outra coisa se não uma farsa, na busca de um bode expiatório para responsabilizar pelas manifestações de violência ocorridas nos protestos de forma generalizante, acusando que todos os atos de depredações e “vandalismos” fossem de responsabilidade dos anarquistas presentes nos protestos e especificamente dessa organização política, como já dito anarquista.
O fantasma atemorizante criado nas redações da RBS: a presença de bandeiras anarquistas, grupos e indivíduos punks e o já folclórico devaneio do âncora da RBS Lasier Martins “mascarados anarquistas” deram a tônica da conspiração em curso. Apresentaram-se “provas”, segundo a polícia nessa operação ilegal, de materiais para confecções de coqueteis molotovs e um mapa com a identificação de órgãos de segurança do Estado, com o quê buscam afirmar que planejávamos desatar ataques.
Além de tais objetos plantados, a coletiva para a mídia corporativa retira a sua máscara e demonstra a farsa em curso, o real objetivo da operação. Segundo o próprio chefe da Polícia Civil, o delegado Ranolfo Vieira Jr. “é importante dizer que nesse local também foi apreendido vasta literatura, eu diria assim, a respeito de movimentos anarquistas.” Considerando que os geniais homens da “inteligência” invadiram uma biblioteca libertária, é natural que achem livros senhores Ranolfo e Tarso Genro. Não sabíamos que uma literatura anarquista, tanto atual como histórica, constitui prova de crime. Desde quando livros estão proibidos em nosso estado? Sim, isto é verdade, levaram muitos livros e o fichário dos usuários da biblioteca do Ateneo, dos quais exigimos a restituição em nossas prateleiras.
Dentre os “perigosos” livros apreendidos, consta a obra Os Anarquistas no Rio Grande do Sul, de João Batista Marçal. O livro foi editado com apoio da Secretaria de Cultura de Porto Alegre no ano de 1995, justo no período em que Tarso Genro era prefeito! Quem faz a introdução é Luiz Pilla Vares e a apresentação é de Olívio Dutra. Ou seja, se publicar livros anarquistas é crime ou ato suspeito, o atual governador já ajudou nesta ação “perigosa”.
Voltou a Censura no Brasil? Ou só no Rio Grande do Sul? O Ateneo Libertário A Batalha da Várzea localizado na Travessa dos Venezianos é um espaço público, de fato uma biblioteca, como já dito, na qual se organizam várias atividades políticas e culturais, em muitas delas inclusive com a participação da vizinhança local. Usamos também instrumentos musicais, teatro, tintas, pincéis, sprays para expressar através das artes nossas críticas e nossos anseios, enfim nossa ideologia. Quando nos apropriamos de palavras, as usamos para expressar idéias, estas armas perigosíssimas!. Quando tornaram-se criminosas as idéias dissonantes do status quo?
Além dos “perigosos” livros, a repressão política do RS afirma ter encontrado material inflamável. Sabemos que qualquer objeto além de um botijão de gás foi plantado com o objetivo de incriminar e isolar, a partir da repressão e da guerra psicológica, nossa corrente libertária e combativa, do atual cenário político. Começou com os factóides plantados pela RBS, onde aparecíamos como elementos “sociopatas” que planejam desatar inúmeras operações de guerrilha na cidade. Ora, precisamos de gás para aquecer a água pro mate.
Quanto ao mapa citado pelos chefes do aparato repressivo do estado, sob responsabilidade do governador, afirmamos aqui com veemência que não sabemos do que se trata, considerando ser essa operação ilegal, não há dificuldades em supor que seja algo “implantado” numa tentativa clara de nos criminalizar.
Reconhecemos sim e muito bem outro mapa, o da cidade de Porto Alegre, sua periferia e centro, porquê é aqui que vivemos e lutamos junto aos diversos setores das classes oprimidas, organizados ou não, socialistas ou não, enfim, o povo organizado contra a dominação e por melhorias nos serviços públicos e contra as retiradas de direitos conquistados pela luta popular em curso, com suas vitórias e derrotas há mais de um século. Aqui estamos há 18 anos, de forma pública, com bandeira, endereço e publicações tanto impressas como virtuais.
Participamos dos movimentos populares, estudantil, sindical, comunitário, nas rádios comunitárias, no bloco de lutas pelo transporte público, enfim, nas lutas sociais que somos chamados a pelear ou solidarizarmos. Já somos conhecidos sim, pelas policias, pelos movimentos sociais também pelos partidos políticos, inclusive por vários setores do PT e demais que compõem a base do atual governo de turno no RS porque de fato existimos e nunca nos furtamos a pelear.
Logo após a divulgação da operação da Polícia Civil o governador Tarso Genro se apressou a nos atacar da forma mais vil e covarde possível. Ansioso por nos golpear, Tarso nos associou ao fascismo, conclamando as organizações da esquerda a reverem suas políticas de aliança de forma a nos isolar. “— Todos os partidos e pessoas, inclusive os de ultra-esquerda, tem de ajudar a combater isso. Ninguém sobrevive a isso. Todos sucumbem. O caminho é aquele que nós já conhecemos e causou a Segunda Guerra Mundial” Assim se pronunciou o histórico dirigente do PT e governador do Estado Tarso Genro. Aliás, assim se pronunciou o ex-dirigente do Partido Revolucionário Comunista (PRC), irmão de um dos maiores teóricos marxistas do Brasil (Adelmo Genro Filho) e ele mesmo um ex-militante com dezenas de conflitos contra a repressão. Mas isso foi no século passado, não é governador?
Diante da absurda acusação de que somos fascistas, sugerimos aos assessores do palácio e aos agentes dos serviços de inteligência uma rápida pesquisa sobre as inconformidades ideológicas e históricas do que afirma o governador, pois historicamente combatemos o fascismo, existem correntes libertárias que dedicam-se exclusivamente a isto, sobretudo na Europa. Aos senhores jornalistas, lhes sugerimos ainda uma pesquisa sobre a resistência ao fascismo na Espanha e França no contexto da ascenção de Hittler e Mussolini sobre a Europa assim como sobre o episodio de 07 outubro de 1934, na Praça da Sé, em São Paulo, quando a épica coluna operária, formada sobretudo por anarquistas deu combate aos integralistas de Plínio Salgado da AIB (Ação Integralista Brasileira), no fato conhecido como “ a revoada das galinhas verdes”. Fomos e seremos sempre os primeiros nas fileiras de combate a qualquer forma de totalitarismo, sejam eles stalinistas, fascistas ou de qualquer outra natureza. Ser anarquista não é crime.
Já que o senhor Tarso se demonstra tão preocupado com o avanço do fascismo, lhe indagamos: Organizar uma biblioteca pública com foco em literatura anarquista e obras diversas é um crime? Se nossos livros estão sendo apresentados como provas de crime segundo as declarações da cúpula de segurança pública, o que pretendem o senhor Tarso e demais autoridades do estado com isso? Vão fazer como os fascistas e queimar nossos livros em praça pública? Proibir a impressão e venda de títulos relacionados ao anarquismo? Realizar incursões em residências a busca destes títulos, dado o caráter “inflamável” de tal literatura?
Reconsidere suas palavras senhor Tarso, pois são estas operações policiais, sob sua responsabilidade, que afinal se mostram vinculadas a uma prática de perseguição de idéias libertárias, portanto terminam por apoiar práticas que cheiram fascismo. Lembramos ainda que há sim grupos nazistas em Porto Alegre, os quais estavam armados com facas no último protesto do dia 20 de Junho, circulando livremente sem a correspondente repressão que nos dedicam, procurando os anarquistas da FAG. O que lhes parece que queriam, seguramente não era pra debater a conjuntura não é? Quanto a isto o que farão os responsáveis pela segurança pública. Livros não são crime!
Sabemos que a meta do governo estadual é política. O objetivo de toda essa guerra psicológica é semear pânico, isolar-nos do cenário e assim pavimentar o caminho para a sanha repressiva em direção de nossa organização e seus militantes.
Por fim, reafirmamos que não iremos nos dobrar a mais essa investida. Desde o início do ano estamos sendo alvejados pela repressão, ainda que até então ela não tenha nos atingido com tamanha intensidade. No início de abril, logo após um massivo ato contra o criminoso aumento das passagens de ônibus, que reuniu mais de 10 mil pessoas nas ruas de Porto Alegre, tivemos nosso site retirado do ar. Na verdade, o domíniowww.vermelhoenegro.org simplesmente sumiu, assim como seus domínios espelhos. Esta censura que segue vigente, fazendo com que encontremos espaços alternativos para divulgar nossas opiniões.
Situação semelhante também ocorreu em novembro de 2009, quando nossa antiga sede foi invadida pela mesma Polícia Civil, a mando do então governo Yeda Crusius (PSDB) em função de um cartaz onde responsabilizávamos politicamente a governadora e o oficial da Brigada Militar no comando do campo de operações pelo assassinato do colono Elton Brum da Silva, em 21/08/2009. O militante sem terra foi morto a sangue frio e a queima roupa por um tiro de calibre 12, enquanto protegia as crianças em uma desocupação de terra na campanha de São Gabriel. Naquela ocasião, por fazermos a denuncia e darmos solidariedade também tivemos nosso site censurado e ainda hoje 06 companheiros/as de nossa organização seguem respondendo processo judicial, no qual seguimos reafirmando que Yeda e o comando da BM foram os responsáveis diretos pelo assassinato de Elthon Brum!
Assim como não nos dobramos a repressão vil do governo Yeda, tampouco iremos nos dobrar a repressão do governo Tarso, que busca isolar a esquerda combativa de forma a atacá-la com maior contundência sob os aplausos e gargalhadas dos setores mais reacionários de nosso Estado e país. Tarso, ex-comunista, ex-dirigente revolucionário, mudou de lado e hoje é uma caricatura torta do militante que pretendia ser nos anos ’70 do século passado. Hoje se porta de maneira servil diante da RBS. Para “defender” o papel simbólico da empresa líder na comunicação social, orienta a Brigada Militar a atacar os manifestantes quando passam do outro lado do Arroio Dilúvio, em uma avenida de seis pistas! Não foram os anarquistas que lideraram a linha de frente da marcha da ultima quinta feira em direção a ZH. Choveu bombas de gás e balas de borrachas sobre as cabeças com caras pintadas de verde e amarelo e flores nas mãos. A imagens dos protestos da última semana em Porto Alegre têm a marca das bombas da BM lançadas contra o povo ordeiramente em marcha na direção da Zero Hora.
Enfim, esse é o caminho pelo qual trilham, invariavelmente, as políticas de pacto social. A história já nos demonstrou de forma clara, basta olharmos a social democracia alemã e sua caça aos conselhos operários sob influência dos então spartarkistas, delegados revolucionários e também de muitos anarquistas. Caçada essa que levou a ostensiva perseguição de valorosos militantes da classe trabalhadora alemã, como Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht e Gustav Landauer, este último militante de nossa corrente anarquista. Todos eles presos e assassinados a coronhadas pelas forças de repressão da social democracia. Todos estes militantes serviram de bode expiatório para as políticas de conciliação de classe, que, somadas com a inércia decisória, levaram ao caos e ao nazi-fascismo. Governador, conforme foi dito, se nós estivéssemos à beira da 2ª Guerra Mundial, seríamos milicianos espanhóis, resistentes franceses ou partigianos italianos. Já o senhor, de que lado estaria? De que lado está agora?
A FAG, com 18 anos de história e vida pública e permanente atuação em diversas das lutas sociais em nosso estado e país, é parte de um legado histórico de uma corrente que há quase dois séculos levou às últimas conseqüências o combate a reação, as classes dominantes e seu Estado lacaio. Sim temos relações internacionais e estas surgiram em 1864, na 1ª Associação Internacional dos Trabalhadores, AIT. Todas as correntes do socialismo têm relações com agrupações afins em diversos países. Todas as vertentes do socialismo são internacionalistas, ou o ex-dirigente do PRC também considera isso um crime? Se hoje no país os trabalhadores têm assegurados alguns direitos, estes são fruto de 40 anos de luta sindical antes de 1932. Esta luta era mobilizada por sindicatos livres, desvinculados de partidos políticos, e os organizadores eram militantes anarquistas. O anarquismo é parte da luta popular no Brasil e no Rio Grande do Sul e continuará sendo. Nossa organização ajuda a organizar a luta pelo direito à mobilidade urbana, pelo passe livre e redução dos preços das passagens. Somos parte integrante do Bloco de Luta pelo Transporte Público desde sua fundação, assim como militamos e participamos em diversas frentes de lutas sociais, como Movimento Sem Terra, Rádios Comunitárias, Sindicatos, Movimentos Estudantis, de Luta pela Moradia, Comunitário, somos linha de frente na luta pela diversidade e desde o começo nos Comitês Populares da Copa.
A nossa história, “excelentíssimas autoridades” é escrita com o sangue e suor das barricadas dos oprimidos e assim sempre será. Vossa sanha repressiva nunca será capaz de nos calar. Não tememos as hienas e nem a fábrica de mentiras da RBS! A verdade fala mais alto entre os militantes do povo. Somos militantes de esquerda não parlamentar, militantes populares e não terroristas. Terrorista é quem joga bombas contra dezenas de milhares de pessoas caminhando desarmadas. Tarso Genro, RBS e oligarquia gaúcha, sua campanha difamatória tem pernas curtas e a mentira não passará.
Não tá morto quem peleia!
Federação Anarquista Gaúcha, 22 de junho de 2013




Qual baderna?



Em agosto de 1792, Maria Antonieta devia achar que os que se juntavam na frente das Tuileries eram baderneiros ignorantes.



Em dezembro de 1773, o governador inglês da província de Massachusetts devia pensar a mesma coisa dos "filhos da liberdade", que se disfarçavam de índios, subiam nos navios, jogavam o chá no mar e não queriam pagar os impostos.

Na época, Samuel Adams explicou que, mesmo se esses homens fossem apenas vândalos descontrolados, eles seriam, de fato, os defensores dos direitos básicos do povo das colônias.

A maioria dos paulistanos (e, suponho, dos brasileiros) pensa como Samuel Adams e deseja que as manifestações continuem, por uma razão que está muito além da tarifa dos ônibus: a relação do poder público com os cidadãos do Brasil é, sistematicamente, há muito tempo, de descaso e desrespeito, se não de abuso.

A escola e a saúde públicas são o destino resignado dos desfavorecidos. A insegurança se tornou uma condição existencial, tanto no espaço público quanto dentro da própria casa de cada um. O atraso da Justiça garante impunidades iníquas.

Claro, nossa arrecadação per capita é menos de um terço da dos EUA, por exemplo. Ou seja, talvez tenhamos os serviços públicos que podemos nos permitir.

Convenhamos, seria mais fácil aceitar essa triste realidade 1) se a corrupção não fosse endêmica e capilar, especialmente na administração pública, 2) se os governantes baixassem o tom ufanista de nossos supostos progressos e sucessos, 3) se a administração pública não fosse cronicamente abusiva e desrespeitosa dos cidadãos e de seus direitos.

Além disso, o dinheiro no Brasil compra uma cidadania VIP, na qual não só escola, saúde e segurança são serviços particulares, mas a própria relação com a administração pública é filtrada por um exército de facilitadores e despachantes.

A sensação de injustiça é exacerbada pela constatação de que muitos representantes procuram ser eleitos para ganhar acesso à dita cidadania VIP. Por isso, hoje, circulam aos borbotões, na internet, propostas de reforma política em que, por exemplo, 1) os membros do Legislativo e do Executivo seriam obrigados a recorrer, para eles mesmos e para seus filhos, aos serviços da educação e da saúde públicas, 2) os congressistas não teriam nenhum regime privilegiado de aposentadoria, 3) os congressistas não poderiam votar o aumento de seus próprios salários etc.

Para piorar, os representantes parecem se preocupar pouco com os compromissos de seu mandato e muito com sua própria permanência nos privilégios do poder. Por isso, por exemplo, eles compõem alianças que desrespeitam e humilham seus próprios eleitores.

Nesse contexto espantoso, é patética a indignação com os "baderneiros" e mesmo com a margem de delinquentes comuns que se agregaram às manifestações.

O poder, quando não é efeito de graça divina, vem dos próprios cidadãos e é condicional: só posso reconhecer e respeitar a autoridade que me reconhece e me respeita. Uma autoridade que me desrespeita merece uma violência equivalente à que ela exerce contra mim.

Além disso, é bom não perder o senso das proporções. "Olhe, olhe!", grita um repórter, enquanto a tela mostra alguém que foge de uma loja saqueada levando algo no ombro. Tudo bem, estou olhando e não estou gostando, mas minha indignação é mais antiga e por saques muito maiores.

Outro repórter pensa nos coitados que perderão o avião, em Cumbica, por causa dos manifestantes que bloqueiam o acesso ao aeroporto. Mas o verdadeiro desrespeito é o de nunca ter construído uma linha de trem entre São Paulo e o maior aeroporto do país.

O ministro Antonio Patriota se declarou indignado com o vandalismo contra o Palácio do Itamaraty. Com um pouco de humor negro, eu poderia suspeitar que os apedrejadores talvez tenham precisado um dia dos serviços de um consulado no exterior. Mas, deixemos. Apenas pergunto: se esses forem vândalos, então o que são, por exemplo, os latifundiários desmatadores da Amazônia?

Enfim, à presidenta Dilma gostaria de dizer: não acredito que os "baderneiros" das últimas semanas tenham envergonhado o Brasil --nem mesmo quando alguns depredaram o patrimônio público. Presidenta, você sabe isto mais e melhor do que muitos de nós: o que envergonha o Brasil é uma outra baderna, bem mais violenta, que dura há 500 anos e que gostaríamos que parasse.

CALLIGARIS, Contardo. Qual Baderna, 2013. 

CASAMENTO DE BEATRIZ BARATA: NOSSO 14 DE JULHO, NOSSA BASTILHA CARIOCA!
beatriz barata

Beatriz Barata, o lindo vestido, a noiva em total controle da situação

Foto Luiz Roberto Lima, colaborador da Mídia Ninja, via Google



Tendo o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e sra., como padrinhos, e como convidados os colecionadores de arte Sergio e Hecilda Fadel, que recentemente receberam a presidenta Dilma Rousseff para jantar em casa, no Rio, e cuja filha é casada com o filho do ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, além do colunista social de Fortaleza, Lalá Medeiros, casaram-se ontem, com festa que varou madrugada, no Copacabana Palace, Beatriz Barata, neta do maior empresário de ônibus do Rio de Janeiro, Jacob Barata, e Francisco Feitosa Filho, cujo pai é o dono da maior empresa do ramo no Ceará.

Acompanhar, via mídias sociais e MSMs recebidos, o protesto indignado contra este casamento diante da Igreja N. Sra. do Monte do Carmo e da festa no Copacabana Palace, me fez sentir clima de Revolução Francesa, correndo um frio na espinha, um presságio ruim. E me veio à mente a princesa de Lamballe, melhor amiga de Maria Antonieta, com a cabeça espetada na ponta de uma lança, pela multidão que invadiu asTulherias.

Estávamos numa madrugada de 14 de Julho, mesma data da Revolução Francesa, e toda aquela manifestação, que ontem começou alegre, até divertida, berrando bordões bem humorados, outros de gosto duvidoso, teve consequências desastrosas, com cabeça ensanguentada, decisões equivocadas, batalhão de choque, bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e gás de pimenta, às 3,30h, 4h da manhã, diante de nosso Palácio de Versailles, emblema máximo do luxo, da riqueza e da sofisticação do país: o Hotel Copacabana Palace!

Vou contar como foi, tal e qual… Aquietem-se, concentrem-se e me escutem…

Com gritaria na calçada, o protesto diante da igreja causou tensão nos convidados, perturbou todo o tempo o ofício do padre e a noiva, Beatriz, em vez de cortejo de daminhas e pajens, precisou de cordão de isolamento para entrar na igreja.

Enquanto padre Alexandre fazia a homilia, escutava-se nitidamente os manifestantes em coro dizerem coisas como “ha,ha, ha, o noivo vai broxar”, “também quero meu Louboutin”, “úúú, todo mundo pra Bangu” e tambores, buzinas e panelas, pó-pó-pó-pó-pó, pó-po-ro-po-pó, fon-fon-fon etc. O cerimonial de moças e rapazes impecáveis, pra lá e pra cá, cochichando baixinho, apreensivos sobre como solucionariam a saída dos noivos. Foi com PM e seguranças.

Beatriz, calada e retraída, permaneceu tensa todo o tempo – pudera! – mas manteve o controle. Foi altiva.

Já na recepção, no Copacabana Palace, todos se descontraíram e puderam se divertir, porque no interior do hotel não se percebia o que se passava lá fora, à exceção daqueles nas mesas da varanda.

No calçadão da Atlântica, uma garotada bonitinha da Zona Sul fazia manifestação até divertida, à la carioca, com meninas vestidas de noiva, rapazes alguns de terno e gravata, sacando bordões inspirados como “Eu também quero meu Louis Vuitton”, “Cadê minha Chanel?”, “Nesse hotel tem Barata!”, “Eu também paguei essa festa, quero meu bem-casado” e aquele clássico chulo da noite, citado acima, que se referia ao noivo…

E dá-lhe buzina, bateção de panela, de tabuleiro de alumínio, e desacatos para as mulheres (lindas!), que entravam ou saíam decotadas, cobertas de bordados: “piraaaaaanha!”. Não poupavam ninguém.

Com todas as quatro entradas do hotel bloqueadas por eles, ninguém entrava, ninguém saía, pela internet, os seguidores que assistiam à transmissão do canal “Mídia Ninja” postavam comentários mais pesados, do tipo “CABRAL VAI É DORMIR AÍ !!!!” (detalhe: Cabral sequer figurava na lista de convidados da festa!); “cadê as bombas???chama pa nois estraga a festa!”; “BA-FO-ME-TRO NO HOTEL”; “Rico não tem Lei Seca?” (referindo-se aos que embarcavam em seus carros mesmo aparentando ter bebido, quando ainda se podia sair); “chocada com o valor dos presentes que a Baratinha pediu no casamento. Veja a lista: http://migre.me/fsCZL” (localizaram a lista no site da H. Stern); “Candidato da Baratinha é Marcelo Freixo do PSOL” (foram checar no Face de Beatriz e descobriram); “ISSO.. TEM QUE JOGAR OVO MESMO…” (zangados porque a repórter foi maltratada por um policial à porta); “Todos RATOS engravatados, saindo pelos fundos constrangimento é a única arma do povo!!” (houve uma hora em que os convidados conseguiram sair pela porta da Av. Copacabana); “deixem suas mensagens de parabéns ao noivo”.

Vou omitir palavrões, baixarias e violências. Se é que já não transcrevi demais disso.

A horas tantas, chegou ao hotel a diretora-geral, Andréa Natal, que por força do cargo mora no Copa. Entrou pela porta lateral da Pérgola, junto ao Edifício Chopin. Aflita, vendo aquela multidão e a gritaria, parou para discutir com os manifestantes, iniciando rápido, bate-boca, logo sustado pelos seguranças, que a transportaram para dentro.

No interior do hotel mais lindo do Brasil, tudo eram maravilhas. No Golden Room, a apoteose do deslumbramento. O decorador Antonio Neves da Rocha plantou no meio do salão uma árvore frondosa, com os galhos alastrando-se por toda a área do teto, de onde pendiam fios com lampadário e buquês de flores. O chão coberto com grama. E a iluminação causava a sensação de se estar numa floresta-lounge, com estofados pretos.

Ali foi o show de Latino, que para entrar só conseguiu pela porta de serviço da Rodolfo Dantas, a da cozinha, driblando os manifestantes. Depois do bundalelê do Latino, houve ali a dança, com o DJ Papagaio e sandálias Havaiana vermelhas para todos os 1050 convidados que compareceram. Foram expedidos 1200 convites. Havia lugares sentados para todos, absolutamente todos.

No Salão Nobre, aquele comprido que sucede ao Golden Room, Neves da Rocha cobriu toda a parede de janelões que dá pra piscina com imenso painel único de Debret (ou seria Rugendas?) com super-mega-imensa-paisagem do Rio de Janeiro, abrangendo nossas montanhas, o mar, a Baía, florestas, do teto ao chão, criando visão fantástica.

Completavam o ambiente lustres enormes cobertos com heras, toalhas de damasco verde musgo cobriam as mesas até o piso.

O mesmo décor de toalhas musgo de damasco se repetia nos salões da frente e nas duas varandas, que foram cobertas e fechadas com paredes de muro inglês, com heras, e os mesmos lustres espetaculares. Cadeiras de medalhão suntuosas. Muito bonito.

Entre os três salões da frente, o do meio foi destinado a ser apenas o Salão dos Doces, com bem-casados da Elvira Bona, doces de Christiana Guinle, chocolates de Fabiana D’Angelo. Chá, café, brownies. O Céu, a Terra e o Mar também…

O champagne era Veuve Clicquot. Uísque Black Label. Aqueles coquetéis de sempre, Bellini, Marguerita etc. Vários bares de caipirinha, saquê etc. O bolo de Regina Rodrigues era um acontecimento, com vários andares, todo branco.

Buffet do Copacabana Palace, muito bem servido e elogiado. Na verdade, eram vários buffets, distribuídos por todos os salões e varandas. Mesas de frios. Pratos quentes. O cerimonial foi de Ricardo Stambowsky. As fotos, de Ribinhas.

Flores de Raimundo Basílio. Não houve exagero de flores, o verde deu o tom. Uma decoração em que prevaleceram o equilíbrio e a elegância. Luxo sem excessos.

Todo esse décor serviu de cenário à mais fantástica coleção de vestidos jamais reunida numa festa no Rio de Janeiro. Esta a opinião que ouvi de vários que lá estiveram, quer como convidados, quer prestando serviço ao evento. Um especialista em moda, que pediu para não ser identificado, falou: “Nunca vi tantos vestidos deslumbrantes como nessa festa. E de gente que ninguém conhece”. Acredita-se que a grande maioria das mulheres com essas roupas sensacionais, vestidos de alta costura, grandes marcas, fosse de convidadas do Ceará, que ocuparam vários apartamentos no hotel. O Copa bombou na festa e na ocupação.

Não apenas os vestidos eram extraordinários. As joias eram também fantásticas. A começar pelas da noiva, usando riviera de brilhantes fantástica no pescoço, dois enormes brilhantes nas orelhas e uma coroinha de ouro e grandes brilhantes, na cabeça, sempre usada pelas noivas da família. O vestido de Beatriz Barata foi obra da estilista Stela Fischer.

Tudo isso foi coordenado pela avó, Glória Barata, que durante a festa várias vezes se lembrou do filho assassinado naquela época da onda de sequestros no Rio de Janeiro. A família pagou o resgate, mesmo assim o jovem não foi poupado. Ela ainda guarda um grande sofrimento. Dona Glória é uma mulher sofrida e amável. Todos os que trabalham com ela e sua família a estimam.

Enquanto o minueto social seguia harmonioso, farfalhante e cintilante, entre as mesas de toalhas verde musgo adamascadas dos salões, no entorno do hotel, a contradança era outra.

Não têm pão? Comam bem-casados! Da varanda, convidados rebatiam as provocações verbais atirando bem-casados na “plebe” (bem à la Maria Antonieta, que ofereceu bolinhos, lembram?) e remetiam aviõezinhos de notas de R$ 20 (aí, a inspiração já era mais próxima, à la Silvio Santos).

Num crescendo dos protestos, bate panelas, mensagens de Face e Twitter, imagens postadas, provocações, bordões, os ânimos foram se acirrando e não houve nada que se tentasse para apaziguá-los. Ao contrário.

Na portaria do hotel da Av. Copacabana, o motorista de um dos convidados arrancou o celular da repórter “Ninja”, que, como Ninja, deu um salto e conseguiu recuperá-lo, botando o elemento pra correr. Ela recorreu a um policial, que a tratou com impertinência, parecendo alcoolizado. Tudo isso registrado pela câmera Ninja. E a rede social participando, reagindo, se indignando.

Em seguida, correm todos para a Atlântica, prosseguem a gritaria. Uma convidada insiste em deixar o hotel, é impedida e inicia uma briga, quando um convidado, lá da varanda, atira um cinzeiro de vidro na cabeça de um manifestante, que se fere muito.

Vendo aquela imagem ensanguentada na tela da internet, a galera começa a postar desacatos enfurecidamente. A repórter corre para buscar socorro na ambulância de plantão diante do hotel (é lei quando se trata de evento com mais de 600) e o paramédico. Mas o médico não está, “foi lá dentro”. O rapaz machucado tenta entrar no hotel para ser socorrido. Os seguranças e porteiros impedem sua entrada. Está aí cometido o grande erro da noite!

O Copa, neste momento, rompe sua tradição histórica de cordialidade com a população carioca e de diplomacia e assume uma postura hostil.

A multidão na rua se enfurece. A multidão virtual também e passa a convocar o envio geral de comentários negativos à página do hotel na internet. Uma guerra aberta contra o maior tesouro da hotelaria brasileira! Eu, confesso, quase choro. Adoro o Copa. O Copa é o Rio, nossa memória, nossa História.

Mais uns 10, 15 minutos, e chega ao local uma advogada dizendo-se da OAB, localiza uma testemunha da agressão, consegue recolher a “arma do crime”, fragmentos do cinzeiro que atingiu o rapaz, leva os dois para a delegacia, onde faz o registro da ocorrência: “tentativa de homicídio”. A vítima leva seis pontos na cabeça.

Juan Nascimento, o rapaz atingido pelo cinzeiro

A garotada agitada continua nos impropérios, constrangimentos e panelaço, e eis que, quase quatro da manhã… chega o BOPE, marcando sua forte presença de sempre, soltando bombas de gás lacrimogênio, atirando com balas de borracha e, para completar a apoteose da alvorada dessa Bastilha carioca, espargindo spray de pimenta a torto e à direita.

Nessa altura, a multidão de manifestantes, que às três e meia da manhã já estava reduzida a uma centena, ficou ainda menor. Eram apenas uns 50 mais experientes, já com suas máscaras anti-spray nos rostos.

Enfim, os últimos convidados, que aguardavam no foyer do hotel pela oportunidade de deixar a festa, conseguem partir. Vão deixando o casamento Barata e tossem, viram os olhos, engasgam com o spray de pimenta. Os manifestantes de máscara anti-spray gozam, a repórter estica o microfone: “Tá gostando, cara?”.

Foi um acontecimento totalmente atípico, inédito. Já houve manifestações de protesto em casamentos de políticos e pessoas importantes. Como no da filha do senador Álvaro Pacheco, décadas atrás, tendo José Sarney, presidente da República, como padrinho, na Igreja do Largo de São Francisco.

Mas nada, jamais, em tempo algum, se comparou à ferocidade do acontecimento iradodeste 14 de Julho carioca, em nosso Versailles, o Copa, que, ainda bem, nada teve de noite de Tulherias nem de cabeça espetada em ponta de lança. Mas teve cabeça rachada de manifestante. O que já foi um triste começo.

PS: O parágrafo final foi modificado em 15/07/2013, às 13:02, por livre e espontânea vontade da autora


Nenhum comentário:

Postar um comentário